São Paulo, sexta, 28 de agosto de 1998

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Grupos revivem deuses e mitos de origem africana

da Agência Folha, em Belo Horizonte

Os deuses e mitos africanos, depois de séculos de ostracismo no teatro ocidental, estão ganhando os palcos do mundo inteiro por meio de produções de países da América e da África, onde seu culto é uma realidade cotidiana.
Após turnês por vários continentes, estão em Belo Horizonte os grupos Amlima, do Togo (África), e Teatro Buendía, de Cuba, para apresentar seus trabalhos no FIT-BH.
O Amlima é formado por togoleses oriundos de várias tribos africanas, cada uma com seus rituais.
O grupo mostra há cinco anos o espetáculo de rua "Aguto", que reúne tradições praticadas até hoje pelas tribos togolesas.
O ator Jean, de uma tribo do sul de Togo, por exemplo, mostra as tatuagens feitas no seu rosto quando ainda era criança, em reverências ao píton, uma raça de serpentes de sua região.
Segundo Jean, o vodu (entidade mística) é invocado nos rituais de todas as tribos para pedir aos deuses que tragam prosperidade e saúde. No caso de sua tribo, ela acredita que o píton os protege de outros povos na guerra.
No grupo existem ainda membros de uma tribo que prevê as estações do ano e de outra que vive em árvores e, por isso, aprende desde cedo a andar em pernas de pau, elemento também utilizado nas apresentações.
"Outra Tempestade", do grupo cubano Buendía, faz uma colagem de textos clássicos de Shakespeare e mitos afro-caribenhos. As divindades que aparecem no palco, como Oxum e Iemanjá, também são conhecidas dos brasileiros.
Para a dramaturga Raquel Carrió, do grupo Buendía, há muita semelhança entre os ritos de origem ioruba como são praticados em Cuba e o candomblé brasileiro, incluindo deuses com os mesmos nomes e funções rituais.
Na peça, personagens clássicos, como Otelo, sofrem transformações ao receber as divindades em seus corpos. A atriz Juana García, que interpreta a personagem shakespeariana Miranda na peça, diz que é impossível separar os mitos afro-caribenhos do cotidiano do povo cubano, mas que a influência européia do colonizador branco também não pode ser negada.



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