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DISCO/CRÍTICA
CD se perde em comentários
da Reportagem Local
A grande dama de teatro
brinca de fazer música. Em outras oportunidades diretora de
Maria Bethânia e de Clara Nunes em "Brasileiro, Profissão
Esperança", Bibi Ferreira agora toma a si a tarefa.
Da primeira versão, com Bethânia, não ficaram registros
auditivos; a de Clara, apesar do
mérito de exercitar a cantora
em direção divergente de sua
habitual, de sambista, foi levada ao disco -relançado em
CD no ano passado- e já era
algo problemática.
Acontece que o disco -e isso
se aprofunda na atual versão-
não se sustenta como música.
As canções irretocáveis de Dolores Duran e Antonio Maria
eram (e são, de novo) interpeladas a todo momento por comentários, antes de Paulo Gracindo, hoje de seu filho.
OK, os comentários são da
pena admirável de Antonio
Maria, mas nem assim um disco se sustenta como música. As
canções são estupradas pelas
interrupções e pela cultura
pot-pourri.
Mas tudo bem, pense-se em
música. Aí entra o maior problema. Bibi, toda épica, toda
formal, toda velha guarda, ignora que um dos cruciais papéis de Dolores na MPB tenha
sido o de introduzir a delicadeza contra a regra anterior da
impostação e dos dós-de-peito.
Outro dado desparticulariza
-e desvaloriza- os autores
homenageados na presente
versão. Dos pot-pourris vão
emergindo canções italianas,
autores díspares como Milton
Nascimento, Caetano, Jorge
Ben, Edu Lobo etc.
A explicação é que Vinicius
de Moraes lamentara que Dolores, morta muito jovem, não
houvesse conhecido os "novos" autores da geração de 60.
Parece mais capricho da dama
de teatro querendo cantar seus
favoritos. Por que então ela
não grava seu próprio disco?
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Disco: Brasileiro, Profissão Esperança
Artistas: Bibi Ferreira e Gracindo Jr.
Lançamento: RBS Discos/RGE
Quanto: R$ 18, em média
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