São Paulo, sexta, 28 de agosto de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Novo sistema de curadoria enxuga o número de países no evento, que são 53 este ano, e propõe mais coerência entre os setores da mostra
Bienal busca conexão

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

A divulgação dos artistas selecionados para os segmentos da mostra "Roteiros", que dividiu o mundo em sete regiões, e dos 53 artistas das representações nacionais na 24ª edição da Bienal de Arte de São Paulo -conheça-os em listas nesta página- ratifica a proposta curatorial de Paulo Herkenhoff, que pretendeu evitar noções como fronteiras entre as salas e estimular diálogos entre os selecionados e a sua articulação com o público.
"Buscamos noções de transparência, que permitissem diálogos e que enriquecessem e ampliassem as possibilidades de percursos. Era preciso entender que, mesmo se as obras têm existências individuais, essa transparência permitiria um fluxo do olhar entre elas. Os grandes segmentos da Bienal devem estabelecer conexões entre si", disse Paulo Herkenhoff.
Essa amarração estética na mostra "Roteiros" foi possível a partir de reuniões e diálogos entre os sete curadores convidados e os curadores da Bienal.
Não é de se estranhar, portanto, que alguns representantes nacionais, como Geoff Lowe (Austrália), Khalil Rabah (Palestina) e Abdoulaye Konaté (Mali), compareçam também como selecionados na mostra "Roteiros" ou mesmo estabeleçam diálogos com as salas especiais.
É o caso do colombiano Iñigo Manglano-Ovalle, selecionado pela curadora Rina Carvajal, que cria telas em que discute a formação genética das pessoas e, assim, dialoga com as pinturas de castas mexicanas, que estão na sala especial dos séculos 16 a 18. A pintura de castas é uma escola do século 18 que tentou explicar a diversidade étnica e a formação da identidade mexicana a partir da reunião de suas diversas etnias.
As representações nacionais também tendem a ser mais coesas e não mais o balaio de gatos que tem marcado o segmento, em que um país "briga" com seu vizinho e todos perdem.
Entre os selecionados para este segmento, são destaques: o irlandês Brian Maguire, com seus desenhos e pinturas a partir de menores e presidiários paulistanos; a coreana Soo-Ja Kim, que realiza instalações de roupas e lençóis; e a suíça Sylvie Fleury, com sua crítica à sociedade de consumo e seus padrões de moda, estética e comportamento.
"Nossa política para as representações nacionais foi não estimular seu inchamento e sim um diálogo, uma outra experimentação. Fico contente em ter trazido esses curadores e artistas para a discussão que propusemos. Isso reflete a amplitude que uma exposição como a Bienal teria que propiciar", disse Paulo Herkenhoff.
O resultado prático visível foi a seleção de menos países (53 contra 75 da edição passada da Bienal) e mais coerência entre eles, já que a maioria procurou desenvolver sua visão de antropofagia e canibalismo estético.
Esse empenho foi mais intenso em relação à seleção de artistas da América Central e Caribe, que ficou a cargo de Virginia Pérez-Rattón. A curadora costarriquenha selecionou os artistas de 12 países, como Cuba, Jamaica, Nicarágua e Haiti. Esse bloco deverá ser mantido coeso para possibilitar uma confrontação entre as várias leituras propostas por essa mesma região.
A Bienal acontece entre 3 de outubro e 13 de dezembro, no parque Ibirapuera, não tem um tema exclusivo, mas trabalha com o conceito da antropofagia, que consiste na incorporação de valores culturais alheios para a criação de sua própria identidade.



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