São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2001

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CINEMA/ESTRÉIAS

"LIAM"

Garoto retrata povo oprimido

CRÍTICO DA FOLHA

Recentemente, testemunhamos pela TV o terror de algumas crianças católicas irlandesas para chegar à escola. Passando, sob a proteção dos pais e da polícia, por um corredor de protestantes irados, essas crianças sentiram na pele todo o rancor que ainda move a relação entre católicos e protestantes na Grã-Bretanha.
É também a partir da perspectiva de uma criança que o diretor britânico Stephen Frears se debruça sobre esse histórico conflito em "Liam", um drama social ambientado na Liverpool dos anos 30. Caçula de uma família católica irlandesa de classe média, Liam encarna a condição de uma minoria. Garoto reprimido que gagueja toda vez que tem de lidar com alguma autoridade ou responsabilidade, ele é um retrato de seu povo, oprimido pelo poder político dos protestantes e inibido pela pujança econômica dos judeus.
Seu pai é um sujeito trabalhador, do tipo que não gosta de confusão, mas os tempos são de crise (mundial), e o pai exemplar, posto no olho da rua, não demora a surpreender a família.
Enquanto o roteirista Jimmy McGovern, um veterano da TV, traça um paralelo entre a opressão político-econômica que leva o pai a aderir ao fascismo e à repressão religiosa que marca a formação de Liam, Frears parece mais interessado em explorar a alternância entre a "pequena cena" do âmbito da vida privada e a "grande cena" do contexto histórico-político.
Meio fora de forma, erra a mão tanto no lirismo (artificial) das cenas prosaicas quanto na pompa (vazia) das cenas "épicas".
A mensagem antiextremista de "Liam" chega em hora certa. Mas, de resto, essa produção típica da BBC prima pela recorrência. A história de McGovern lembra o romance autobiográfico do irlandês Frank McCourt, "As Cinzas de Angela", cuja adaptação cinematográfica foi lançada em 1999 por Alan Parker.
A direção de Frears invade o terreno de Terence Davies ("Vozes Distantes"), cujos filmes memorialistas são inspirados na infância pobre vivida na Liverpool dos anos 50. Tal como Davies, Frears centra as sugestões nostálgicas de sua incursão na classe média de Liverpool nas afecções de uma pobre criança-problema. (TIAGO MATA MACHADO)


Liam
Liam
  
Direção: Stephen Frears
Produção: Grã-Bretanha, 2000
Com: Ian Hart, Claire Hackett, Anthony Borrows
Quando: a partir de hoje nos cines Jardim Sul, Unibanco 1, Sala Uol e circuito




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