São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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CRÍTICA

Romance celebra esperança por final feliz

ANTONIO BIVAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tony Parsons escreveu cinco romances antes de estourar com "Pai e Filho", em 1999. O livro, que ganhou versão televisiva na BBC, está chegando às livrarias brasileiras como "Pai e Filho", em tradução decente.
O título brasileiro procede: além de criar o filho de quatro anos quando seu casamento acaba, Harry, o narrador, tem também seu próprio pai, que irá morrer de câncer. Pai e filho, sim, o livro, mas também mães, mulheres etc.
A trama do romance é extremamente família. Harry é casado com Gina. Harry é filho de um casamento feliz enquanto Gina é filha de um casamento fracassado. Gina sonha com uma vida certa. Tudo, no trabalho e no lar, parece estar "o melhor impossível" para Harry. Mas, como ele está para fazer 30 anos, sente um ligeiro comichão e acaba pulando a cerca. Harry torna-se, de repente, um pai solteiro. Não erra quem, lendo esta resenha, pensa: "mas estamos no terreno da soap opera!". Estamos. Mas isso não chega a comprometer o trabalho.
Tony Parsons revela-se um craque nesse terreno. Amarra muito bem a trama e sabe causar efeitos especiais-sentimentais. Como, aliás, seu colega Nick Hornby e outros brilhantes cronistas vindos da classe média.
Em se tratando de um romancista atual, no pós-moderno das inserções, há uma familiaridade das citações: quando a garçonete diz seu nome, o som que Harry entende o faz perguntar Sid, de Sid Vicious, ou Cyd, de Cyd Charisse? E ela responde que é Cyd, de Cyd Charisse (a bailarina da Metro); Frank Sinatra também está presente, assim como Dean Martin e outros gêneros musicais, de Led Zeppelin ao hip hop, de Shirley Bassey a Madonna. E os brinquedos infantis: "Guerra nas Estrelas" e Barbie. O humor de Parsons é nada exacerbado. Mas também se mostra mestre no saber arrancar lágrimas.
Como mostra seu novo romance, "Man and Wife", Parsons segue variações sobre o mesmo tema: o pensamento conservador em choque com as intempéries; a nostalgia de uma Inglaterra que não mais existe e de um mundo que vai ficando para trás; os horrores da vida moderna mas também a centelha de esperança por um final feliz. Em suma: Tony Parsons sabe fazer um bom drama da vida como ela é, hoje.

Antonio Bivar é dramaturgo, escritor e autor de "O que É Punk", entre outros.


Pai e Filho
Man and Boy
    
Autor: Tony Parsons
Tradução: Pedro Jorgensen Jr.
Editora: Sextante
Quanto: R$ 26 (349 págs.)




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