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Morre Betty Carter, a radical do jazz
CARLOS CALADO
especial para a Folha
A cantora norte-americana
Betty Carter morreu anteontem,
aos 68 anos, vítima de câncer no
pâncreas, em Nova York. O jazz
perde uma de suas intérpretes
mais radicais e inovadoras.
Clubes de jazz nova-iorquinos,
como o Blue Note e o Birdland,
renderam homenagens póstumas
à cantora, pedindo minutos de silêncio a seus frequentadores.
"Vamos sentir falta dela. Ela era
uma cantora maravilhosamente
inovadora e inventiva", disse ontem a intérprete de jazz britânica
Annie Ross, do influente trio vocal
Lambert, Hendricks & Ross.
Nascida em Flint (no estado de
Michigan), em 16 de maio de 1930,
Lillie Mae Jones (seu nome verdadeiro) estudou piano no Conservatório de Música de Detroit.
Aos 16 anos venceu um concurso
de amadores. Pouco depois, estreou como cantora. Sua estréia
como profissional foi ao lado do
saxofonista Charlie Parker, em
Detroit. Falsificou a data de nascimento, na cédula de identidade,
para fugir da proibição a menores
de idade em clubes noturnos.
Atuando como vocalista da orquestra do vibrafonista Lionel
Hampton, entre 1948 e 1951, despertou atenção na cena jazzística.
Foi uma defensora radical do
"bebop" -o estilo de jazz moderno criado em meados dos anos
40, por uma geração de músicos
inovadores, como Charlie Parker e
o trompetista Dizzy Gillespie.
Graças a essa inclinação musical,
recebeu de Lionel Hampton o apelido irônico de "Betty Bebop"
(que virou sua marca registrada) e
foi demitida da orquestra.
Dai em diante, começou a se
apresentar em clubes, especialmente em Nova York, onde se radicou. Um de seus discos mais famosos, foi gravado com o cantor e
pianista Ray Charles, em 1961.
Avessa a concessões comerciais,
Betty amargou um período de semi-ostracismo, nos anos 60, época
em que chegou a suspender a carreira para cuidar dos dois filhos.
Ao retornar aos palcos, em 1969,
fundou seu próprio selo fonográfico, o Bet-Car, pelo qual gravou vários discos, incluindo o elogiado
"The Audience with Betty Carter", premiado com o Grammy.
Improvisadora excepcional,
Betty foi das maiores cultoras do
"scat singing", a vocalização sem
o uso de palavras, só com sons
onomatopaicos. Até mesmo ao
improvisar canções conhecidas,
transformava-as em algo novo.
Nos últimos 10 anos, depois de
assinar contrato com o selo de jazz
Verve, começou a gravar com
mais regularidade e seus álbuns
antigos foram relançados.
Também ficou conhecida como
reveladora de talentos. Por suas
bandas passaram instrumentistas
hoje bem conhecidos, como os
pianistas Cyrus Chestnut, Jacky
Terrasson e Mulgrew Miller, ou os
bateristas Lewis Nash, Kenny
Washington e Wynard Harper.
Betty Carter esteve várias vezes
no Brasil. Apresentou-se no Free
Jazz Festival de 93 e fez temporada
no antigo 150 Night Club, em São
Paulo, em 1983. Chegou a ser convidada para o para o recente festival Marantz Jazz Soundz, mas já
tinha suspendido os shows. O jazz
deixa de contar com uma de suas
estrelas mais brilhantes.
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