São Paulo, Quinta-feira, 28 de Outubro de 1999
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Indianos querem "procissão"

VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha


Roupas puídas, rostos expressivos e instrumentos rudimentares são características dos músicos indianos que remetem à figura do homem nordestino brasileiro recolhido em seu canto, em sua arte. Mas a identificação com a Fanfarra de Bijapur, uma das atrações de hoje no 8º Fiac, pode ser maior do que se imagina.
O grupo de Bijapur, cidade ao norte da Índia, foi criado há 40 anos. Sua origem está nas festividades e crenças populares praticadas naquela região pelas castas menos favorecidas -eles incluídos. Daí os convites frequentes para cerimônias como casamentos, batismos e aniversários.
No Fiac, a fanfarra vai abrir os espetáculos de outras atracões -hoje se apresentam antes do concerto dos Músicos do Nilo.
Segundo o diretor do conjunto, Sundar Rao, 60, não existe um roteiro definido. Tudo depende da relação com o público. Mas é certo que serão interpretadas canções populares do norte -"mindoustany"- e do sul -"carnatic"- da Índia.
Também não faltarão incidências do "raga", a base da música clássica indiana. O sopro e a percussão ganham relevo com instrumentos como o "shanai" (equivalente ao trompete), o "suti" (espécie de corneta alongada) e a "tasha" (caixa de tambor).
Rao desconhece qualquer referência sobre a música brasileira. Mesmo assim, espera cativar o público e não descarta puxar uma "procissão", como acontece nas apresentações que percorrem as ruas de Bijapur.
Anteontem, na visita de reconhecimento ao Sesc Belenzinho, o diretor observou que as paredes labirínticas do espaço escondiam o teto celestial das apresentações ao ar livre.
"Para nós, a música é uma forma de orar a Deus, de expressar nossa espiritualidade".

Músicos do Nilo
Criado em 1975, pelo então diretor artístico Alain Weber, o conjunto Músicos do Nilo vem divulgando a chamada "música árabe" desde antes da onda world music.
Eles foram "descobertos" em 93 pela Europa, quando apresentaram-se no World of Music Art and Dance. Também ganharam promoção participando do filme "Latcho Drom", de Tony Gatlif, que retrata a viagem dos ciganos desde a Índia até a Espanha.
Entre os músicos tradicionais que pertencem ao conjunto, da região do Alto Egito, estão os remanescentes do clã Mudgaqali, como Metqâli Qenâwi e Muhammed Murâd Mejâli.
Na apresentação de hoje, eles interpretam canções de domínio público e também dançam o "baladi", outra coreografia popular na cultura egípcia.



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