São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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TELEVISÃO

Apesar de ter uma vilã com um guarda-roupa marcante, a novela não consegue definir em que época se situa

Figurino de "Senhora" irrita e diverte

ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Há tempos não se via um guarda-roupa tão marcante -e irritante- quanto o de Nazaré Tedesco, a psicopata-mor da novela das oito "Senhora do Destino", interpretada por Renata Sorrah, 57. Todos os dias, a ex-prostituta Naza faz um verdadeiro desfile de decotes, fendas e transparências em tecidos como o veludo e a seda, usados para ir a qualquer lugar, a qualquer hora. Do mesmo jeito que se arruma para ir à feira, o faz para seduzir ou chantagear.
Para o estilista Bruno Otaviano, as roupas de Nazaré marcam a época do glamour de quando era prostituta. "Ela usa roupas com cara de cabaré, não importa a hora. É como se tivesse descendo para ir trabalhar", afirma.
Já o estilista Henry Alavez, da Zoomp, diz que a Nazaré passa uma imagem do "mal". "Ela carrega dogmas, é falsa, mentirosa. Tem uma energia pesada. É do mal. O figurino é extremamente decadente porque ela é decadente e vive uma coisa que não existe. Não é dos que eu mais gosto."
Nazaré está sempre vestida para matar -em todos os sentidos do verbo- e o figurino, teatral como a personagem, a acompanha por todos os passos. A figurinista Beth Filipecki, 52, explica que isso acontece porque Naza "precisa estar preparada para qualquer situação". "Ela perdeu a referência, não tem limite", justifica.
E parece não ter de fato. Na semana passada, por exemplo, Nazaré usou uma blusa preta decotada, em renda, alças e mangas transparentes caídas, e uma saia com fenda até o meio da coxa. Para completar o visual, um cinto largo com fivela grande de strass.
Nos dias 16 e 17, quando teve um de seus maiores chiliques, ao ganhar flores do vigarista Madruga, Nazaré usava uma calça de cor cinza-prateado e uma blusa preta estilo mulher-aranha. Com essa mesma indumentária, tinha passeado, em baixo do sol quente, pelo bairro de Copacabana.
Renata Sorrah diz que o figurino de Nazaré é essencial para compô-la, "é a segunda pele dela. Já acorda montada. Ela se acha o máximo, uma estrela". Filipeck conta que ousa vestir Nazaré com roupas "irritantes" porque Sorrah deixa a personagem em casa. "A Suzana Vieira vive o personagem 24 horas por dia, não consegue separar as coisas. Já com a Renata, eu não corro esse perigo", explica.
Dos estilistas ouvidos pela Folha, a protagonista Maria do Carmo, vivida por Suzana Vieira, 62, foi alvo das piores críticas. Bruno Otaviano citou os materiais usados no guarda-roupa. "É muita malha, muita lycra, muito feio. Parece roupa do Bom Retiro."
O estilista Carlos Tuvfesson destacou o "cabelo armado", a maquiagem forte e a abundância de estampas. Já a jornalista e colunista da Folha Erika Palomino, usou a palavra "medonho" para falar do guarda-roupa da personagem. "Em geral, na novela, é tudo muito feio", afirmou.

Diversão garantida
Se não ajuda a delimitar o tempo em que a trama passa -início dos anos 1990-, o figurino de "Senhora" pode ser um espetáculo à parte para os mais atentos. Além do figurino de Nazaré, do brejeiro-brega de Maria do Carmo, do colorido cafona do núcleo pobre e do sofisticado dos ricos e dos falidos, a novela traz tiradas divertidas nos capítulos.
No dia seguinte, sofrendo do mal de Alzheimer, a baronesa Laura (Glória Menezes), que usa salto na sandália de casa, fez uma visita vespertina ao enteado usando um longo dourado. Ela reconheceu o excesso: "Caprichei no "toilette'". A nora, vivida por Angela Vieira, rebateu que ficou até tímida em seu "vestidinho básico". O básico em questão era digno de uma "lady in red".


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