São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Reformado, Arena reabre com Vianinha

Remontagem de "Chapetuba Futebol Clube", sobre a corrupção nos bastidores do futebol, inicia temporada no teatro

Espaço abrigou espetáculos como "Eles Não Usam Black-Tie" e "Arena Conta Zumbi'; apoio à nova dramaturgia brasileira foi traço definidor


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de um "jejum" de quase meio século, o Chapetuba Futebol Clube volta a disputar uma vaga na primeira divisão do Campeonato Paulista. A equipe fictícia da peça homônima de Oduvaldo Vianna Filho (originalmente apresentada em 1959) entra em campo na remontagem que marca a reabertura do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, em São Paulo -a sala estava fechada desde janeiro de 2007 para reforma.
O hiato de 49 anos obviamente trouxe mudanças à escalação do time: no lugar de Flávio Migliaccio, Milton Gonçalves, Nelson Xavier e outros, entram 12 atores selecionados em concurso da Funarte (mantenedora do espaço). O "técnico" de agora é José Renato, diretor de espetáculos históricos do Arena, como "Eles Não Usam Black-Tie" (1958) -que assume o posto de Augusto Boal.
"Chapetuba" acompanha os preparativos da equipe interiorana para uma partida que pode mudar sua história. O entusiasmo coletivo divide a cena com aspirações individuais, como as do goleiro Maranhão, tentado a facilitar o jogo para o adversário em troca de um cheque polpudo, ou as do artilheiro Durval, vidrado numa possível volta triunfal ao Flamengo.
"A escolha da peça do Vianinha [para reabrir o Arena] é acertada porque o texto trata de um tema de grande conhecimento popular, que é o futebol, usado como símbolo de um ideal ainda muito vivo hoje: o de exercer com consciência uma espécie de vida cidadã, um espírito voltado para a convivência, para a comunidade", afirma José Renato.

Palco brasileiro
Em 1959, "Chapetuba" seguiu a trilha de "abrasileiramento" do Arena, aberta no ano anterior por "Eles Não Usam Black-Tie", de Gianfrancesco Guarnieri. A dramaturgia, a partir de então assinada por integrantes da trupe, dissecava as contradições e mazelas do país. Na década seguinte, a mordaça do regime militar não calou o grito de liberdade de "Arena Conta Zumbi" (1965) e "Arena Conta Tiradentes" (67).
Como a Funarte ainda não definiu o espetáculo que sucederá "Chapetuba", é impossível dizer se a nova encarnação do Arena terá uma veia política tão marcada quanto a de 40 anos atrás. Para José Renato, entretanto, "só tem sentido relançar, revisitar uma obra tão importante como foi a do Arena mantendo aquele espírito de conquista, batalha social, reivindicação sobre os problemas políticos brasileiros".
"Mas não creio que remontagens sejam o caminho. Há necessidade de mostrar novas dramaturgias. Essa remontagem é uma homenagem, uma reapresentação do Arena às novas gerações. É uma amostra do espírito, do fundamento e da técnica. A renovação é absolutamente fundamental", diz ele.


CHAPETUBA FUTEBOL CLUBE
Quando: qui., sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h; até 22/12 (volta em 4/1)
Onde: Teatro de Arena Eugênio Kusnet (r. Teodoro Baima, 94, SP, tel. 0/xx/ 11/3256-9463)
Quanto: R$ 10
Classificação: livre



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