Longa com Mel Gibson se destaca por não abusar de ação e privilegiar diálogos

DO CRÍTICO DA FOLHA

"O Fim da Escuridão" é uma boa surpresa. Um thriller sombrio e violento, com alguns bons sustos no caminho, trama engenhosa sobre conspiração governamental e interpretação marcante de Mel Gibson.
Gibson faz Thomas Craven, um policial de Boston que recebe a visita da filha, Emma (Bojkana Novakovic, a filha da bruxa cigana em "Arraste-Me para o Inferno"). Pai ausente, Thomas tem dificuldade para se comunicar com ela e pouco sabe sobre sua vida. No dia da chegada, Emma é assassinada na porta da casa de Thomas, em sequência surpreendente e muito bem filmada.
A investigação diz que o alvo era o policial e que a menina foi morta por engano. Mas Craven desconfia que a história é mais complexa e inicia uma investigação particular sobre o caso.
Em suas andanças, descobre intrincada trama envolvendo uma empresa exploradora de energia nuclear, grupos de ecologistas terroristas, o governo dos EUA e a própria polícia.
"O Fim da Escuridão" foi dirigido por Martin Campbell, e é uma adaptação de uma cultuada série de TV britânica dos anos 80, dirigida pelo próprio Campbell. O longa se destaca em meio aos muitos filmes sobre conspirações governamentais realizados nos últimos anos, ao não abusar de cenas de ação e perseguições e privilegiar os diálogos e o mistério.
O filme de Campbell tem um pouco do clima sombrio dos melhores thrillers políticos dos anos 70, como "A Trama" (Alan J. Pakula, 1974) e "Três Dias do Condor" (Sidney Pollack, 1975), especialmente quando entra em cena o misterioso Jedburgh (o ótimo Ray Winstone, braço direito de Jack Nicholson em "Os Infiltrados"), que ajuda Craven em sua investigação, mas que nunca se sabe de que lado realmente está.
O filme tem sequências surpreendentes, que fogem ao piloto automático que parece guiar os roteiristas de thrillers nos últimos tempos. A cena em que Thomas Craven entrevista uma testemunha dentro de um carro, numa estrada deserta, é especialmente poderosa.
"O Fim da Escuridão" parece ter dado uma sacudida na carreira de Mel Gibson. O ator, que andava sumido das telas nos últimos tempos, não fazia um papel principal desde "Sinais", de 2002, e disse que só voltaria quando encontrasse "um roteiro maravilhoso". "O Fim da Escuridão" está longe de ser maravilhoso, mas tem muitas qualidades.
(ANDRÉ BARCINSKI)