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A VISÃO MASCULINA
O que o pequeno Ben está fazendo ali?
ARMANDO ANTENORE
da Reportagem Local
O xis da questão é: e o Ben? O
que, afinal, o Ben está fazendo
num filme de mulherzinhas?
Se meu avô abandonasse, por
uma tarde que fosse, a mania de só
ver produções italianas e desse
uma espiada em "Lado a Lado",
certamente saltaria da poltrona
antes mesmo de as luzes acenderem. "Tirem o Ben daí", gritaria.
"Tanta choradeira vai acabar amolecendo o menino."
Ben (Liam Aiken) tem 7 anos e é,
sem dúvida, a figura mais simpática de "Lado a Lado". É, também, o
personagem masculino que permanece maior tempo em cena -o
outro, Luke (Ed Harris), participa
menos da trama, embora os créditos do filme o apresentem como
um dos protagonistas.
Três mulheres transitam em torno do garoto: sua mãe, a dona-de-casa Jackie (Susan Sarandon); sua
madrasta, a fotógrafa Isabel (Julia
Roberts), e sua irmã de 12 anos,
Anna (Jena Malone).
Um trio parada dura, que passa
todo o filme às voltas com meia dúzia de angústias existenciais ou algo assim. A saber:
* Mulheres precisam abdicar da
maternidade para ascender profissionalmente?
* Mullheres que trabalham podem cuidar bem dos filhos?
* Quem atende melhor às necessidades de uma criança: a mãe
biológica ou a postiça?
* É justo que mulheres jovens
roubem o marido de mulheres
mais velhas?
* Só o câncer põe fim às rivalidades femininas?
* Uma pré-adolescente, se cortejada pelo garoto mais cobiçado
da escola, deve beijá-lo de boca
aberta ou fechada?
Para cada questão, um rio de lágrimas. Desde "Laços de Ternura" (1983), Hollywood não produzia sequências tão caudalosas.
E o que faz Ben enquanto o mulherio se descabela? Arrota em
público. Brinca de se esconder no
armário da cozinha. Prepara poções mágicas com "orelhas amassadas de lobisomem e pedacinhos de vampiro". Enverga espadas de plástico e sai lutando pelos
parques. Usa chapéu de feiticeiro.
Inventa truques com cartas. Finge praticar telepatia e se põe a adivinhar pensamentos alheios.
Imagina o que ocorreria se "as
tranças de Rapunzel saíssem do
sovaco".
Nada o arranca do mundo fantástico que insiste em habitar.
Não deseja, como a irmã, descobrir "por que papai deixou de
amar a mamãe". Quer, no máximo, saber se o cachorrinho que
ganhou pode devorar seu coelho.
Contrariando as previsões sombrias de meu avô, Ben não amolece. Imberbe ainda, já percebeu o
essencial: não há homem sobre a
Terra capaz de suportar a realidade que o feminino lhe impõe sem
lançar mão de fantasias -de poções mágicas, espadas de plástico, futebol ou Carla Perez.
À medida que o filme avança,
uma única expectativa vai ganhando corpo, até tomar o lugar
de todas as outras. Pouco importa se Anna conseguirá lidar melhor com a separação dos pais, se
Isabel encontrará um equilíbrio
entre os compromissos do trabalho e os deveres de madrasta, se
Jackie irá superar o câncer. O importante, apenas, é que o Ben sobreviva.
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