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VISÃO FEMININA
Ex e atual só são solidárias no câncer
CYNARA MENEZES
da Reportagem Local
"Lado a Lado" transmite a edificante mensagem de que ex-mulher
e atual podem muito bem ser amigas -desde que uma delas esteja
em estado terminal.
O mais curioso é que as atrizes
Julia Roberts e Susan Sarandon,
com vontade de filmar juntas, tenham escolhido tal roteiro por ser
supostamente "feminista". Não é.
Está calcado em estereótipos, ao
contrário, machistas. A ex-mulher
é uma bruxa; a atual, uma fada. Como em 99% dos filmes, o ex-marido é a vítima da megera que deixou. Não há "megeros" na vida
real infernizando as ex-mulheres?
Sim, "feminino" o filme é. Tanto
que o charmoso Ed Harris, o ex-atual marido, pouco aparece. Na
verdade, os filhos passam mais
tempo divididos entre a mãe e a
madrasta -aí já ascendida ao posto de santa, porque a filhinha do
casal é uma pré-adolescente chatérrima.
É filme de "mulherzinha", dirá,
disfarçando os olhos marejados, o
amigo que alguma ousar levar para
assistir junto. Como bom melodrama para atrair multidões, feito
para estimular o trabalho das glândulas lacrimais, funciona.
Mas deixa exposta a aridez de roteiros em Hollywood, tão comentada pelos críticos.
Em um mundo mais criativo, ex e
atual poderiam afeiçoar-se uma a
outra apenas por descobrir mutuamente facetas interessantes. (Será
delírio?)
Talvez assim, em lugar de um
drama, poderia-se ter, quem sabe,
uma comédia -mesmo porque as
poucas partes cômicas são o único
ponto alto do filme além das ótimas interpretações da dupla Sarandon-Roberts.
Do jeito que foi feito, "Lado a Lado" parece apenas aplicar em relação às mulheres o que Otto Lara
Resende teria dito (segundo Nelson Rodrigues) sobre os mineiros:
só são solidárias no câncer.
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