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Crítica/"A Era da Inocência"
Vida insossa de personagem coincide com vazio do longa de Denys Arcand
CRÍTICO DA FOLHA
Passados os momentos
mais explosivos de "A
Queda do Império Americano" e "As Invasões Bárbaras", eis que Denys Arcand se
encontra num momento de
maior introspecção: o Jean-Marc de "A Era da Inocência" é
um homem diante de seu vazio.
Uma pequena digressão sobre o título: não existe um motivo, nem mesmo remoto, para
que o filme tenha ganho o esdrúxulo nome de "A Era da Inocência", quando o original, com
toda clareza, proclama-se "a
era das trevas" -no que ao menos tem maior coerência com o
trabalho do diretor canadense.
O certo é que Jean-Marc está
diante de seu vazio. Ele trabalha longe de casa numa agência
governamental que no papel
existe para ajudar as pessoas e
na prática não faz nada por elas.
A casa ele partilha com uma
mulher chatíssima e duas filhas
que não lhe dão a menor bola.
Para compensar a vida sem
graça, Jean-Marc tem fantasias
com mulheres (incluindo a bela
Diane Kruger). No começo elas
lhe propiciam o amor e a conversa que não tem em casa.
Com o tempo, até as fantasias
se dão conta de que Jean-Marc
não é o homem reduzido pela
vida a experiências limitadas e
desanimadoras. Ele é, antes de
tudo, um chato de galocha.
No momento de mostrar o
vazio de um homem, e não seres que se pavoneiam todo o
tempo por serem quem são, Arcand produz um efeito curioso,
embora não animador: a coincidência perfeita entre o vazio
de seu personagem e o vazio do
seu filme.
(INÁCIO ARAUJO)
A ERA DA INOCÊNCIA
Produção: França/Canadá, 2007
Direção: Denys Arcand
Com: Marc Labrèche, Diane Kruger e Caroline Néron
Onde: estréia hoje nos cines Espaço
Unibanco e Reserva Cultural
Avaliação: ruim
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