São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Crítica/"A Era da Inocência"

Vida insossa de personagem coincide com vazio do longa de Denys Arcand

CRÍTICO DA FOLHA

Passados os momentos mais explosivos de "A Queda do Império Americano" e "As Invasões Bárbaras", eis que Denys Arcand se encontra num momento de maior introspecção: o Jean-Marc de "A Era da Inocência" é um homem diante de seu vazio.
Uma pequena digressão sobre o título: não existe um motivo, nem mesmo remoto, para que o filme tenha ganho o esdrúxulo nome de "A Era da Inocência", quando o original, com toda clareza, proclama-se "a era das trevas" -no que ao menos tem maior coerência com o trabalho do diretor canadense.
O certo é que Jean-Marc está diante de seu vazio. Ele trabalha longe de casa numa agência governamental que no papel existe para ajudar as pessoas e na prática não faz nada por elas.
A casa ele partilha com uma mulher chatíssima e duas filhas que não lhe dão a menor bola.
Para compensar a vida sem graça, Jean-Marc tem fantasias com mulheres (incluindo a bela Diane Kruger). No começo elas lhe propiciam o amor e a conversa que não tem em casa.
Com o tempo, até as fantasias se dão conta de que Jean-Marc não é o homem reduzido pela vida a experiências limitadas e desanimadoras. Ele é, antes de tudo, um chato de galocha.
No momento de mostrar o vazio de um homem, e não seres que se pavoneiam todo o tempo por serem quem são, Arcand produz um efeito curioso, embora não animador: a coincidência perfeita entre o vazio de seu personagem e o vazio do seu filme. (INÁCIO ARAUJO)

A ERA DA INOCÊNCIA
Produção:
França/Canadá, 2007
Direção: Denys Arcand
Com: Marc Labrèche, Diane Kruger e Caroline Néron
Onde: estréia hoje nos cines Espaço Unibanco e Reserva Cultural
Avaliação: ruim


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