São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2001

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MUNDO DE BACO

Vinhos italianos vão além de Toscana

JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA

Além de praias de areias escuras (tingidas pela lava do Etna, seu eterno vulcão) banhadas por águas cristalinas, cidades de enorme charme (do tipo de Taormina), uma culinária riquíssima marcada por todas as culturas do Mediterrâneo e iguarias como uma sensacional ricota (para comer de joelhos), na Sicília pode se encontrar também vinho. Na realidade, muito, muito vinho.
A ilha é uma das maiores produtoras da bebida da Itália (e do mundo). Cerca de 800 milhões de litros são elaborados por ano, quantidade que supera a produção de tradicionais países vinícolas como Chile ou Austrália.
Durante muito tempo, no entanto, a produção se concentrou apenas nisso, na quantidade, e os vinhos sicilianos, vendidos a granel, acabavam apenas fazendo parte da fórmula de vinhos do norte da "bota" ou, até, na garrafa de um Vin de Table francês.
Uma volta pela região pode mostrar tanto alguns rastros do passado como também a aparição de vinícolas bem equipadas, concentradas na qualidade, fruto da evolução que a indústria teve por lá nas ultimas décadas.
No elenco de goles sicilianos, podem se encontrar hoje brancos frescos e frutados, de uvas nativas como a perfumada inzolia ou a catarrato (ao estilo dos de Romolo Buccellatto), tintos "novello", para serem bebidos jovens e refrescados como os Beaujolais (mas que podem ser superiores aos similares gauleses, como o que experimentei na cantina Antichi Vinai), e goles espetaculares.
Menção muito especial nesse departamento para o estreante Don Antonio 98 (que espero apareça logo por aqui), da vinícola Morgante, um tremendo tinto de nero d'avola (cepa de ponta siciliana), que tive a sorte de provar em fevereiro numa exposição de alimentos e bebidas em Palermo e que tem estatura para integrar o time dos melhores tintos do país.
Quem quiser conferir o novo perfil dos vinhos sicilianos pode experimentar alguns dos bons exemplares rubros que já desembarcaram no Brasil. Entre eles, está o La Segreta 99 da Planeta, um nero d'avola temperado com merlot e cabernet sauvignon, equilibrado marcado com bom conteúdo de fruta e pinceladas de certo defumado e pimentão. Impressiona igualmente bem o Cerasuolo de Vittoria 99, da Azienda Agrícola COS, corte de uvas nero d'avola e frappato, de paladar rico marcado por jabuticaba, frutas vermelhas, chá preto e especiaria.
O destaque absoluto entre eles, porém, é o Palari 98, um Faro, diminuta denominação de origem da comuna de Messina. Corte de uvas pouco habituais (nerello mascalese, nerello capuccio, acitana, nocera e tignolino) e envelhecido em carvalho francês, com seu aroma potente (baunilha, cassis, geléias) e seu paladar amplo e longo marcado por madeira e fruta concentrada, o Palari deixa claro que os grandes vinhos italianos podem nascer também fora do Piemonte e da Toscana.


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