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MUNDO DE BACO
Vinhos italianos vão além de Toscana
JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA
Além de praias de areias escuras (tingidas pela lava do
Etna, seu eterno vulcão) banhadas por águas cristalinas, cidades
de enorme charme (do tipo de
Taormina), uma culinária riquíssima marcada por todas as culturas do Mediterrâneo e iguarias como uma sensacional ricota (para
comer de joelhos), na Sicília pode
se encontrar também vinho. Na
realidade, muito, muito vinho.
A ilha é uma das maiores produtoras da bebida da Itália (e do
mundo). Cerca de 800 milhões de
litros são elaborados por ano,
quantidade que supera a produção de tradicionais países vinícolas como Chile ou Austrália.
Durante muito tempo, no entanto, a produção se concentrou
apenas nisso, na quantidade, e os
vinhos sicilianos, vendidos a granel, acabavam apenas fazendo
parte da fórmula de vinhos do
norte da "bota" ou, até, na garrafa
de um Vin de Table francês.
Uma volta pela região pode
mostrar tanto alguns rastros do
passado como também a aparição
de vinícolas bem equipadas, concentradas na qualidade, fruto da
evolução que a indústria teve por
lá nas ultimas décadas.
No elenco de goles sicilianos,
podem se encontrar hoje brancos
frescos e frutados, de uvas nativas
como a perfumada inzolia ou a
catarrato (ao estilo dos de Romolo Buccellatto), tintos "novello",
para serem bebidos jovens e refrescados como os Beaujolais
(mas que podem ser superiores
aos similares gauleses, como o
que experimentei na cantina Antichi Vinai), e goles espetaculares.
Menção muito especial nesse
departamento para o estreante
Don Antonio 98 (que espero apareça logo por aqui), da vinícola
Morgante, um tremendo tinto de
nero d'avola (cepa de ponta siciliana), que tive a sorte de provar
em fevereiro numa exposição de
alimentos e bebidas em Palermo e
que tem estatura para integrar o
time dos melhores tintos do país.
Quem quiser conferir o novo
perfil dos vinhos sicilianos pode
experimentar alguns dos bons
exemplares rubros que já desembarcaram no Brasil. Entre eles, está o La Segreta 99 da Planeta, um
nero d'avola temperado com
merlot e cabernet sauvignon,
equilibrado marcado com bom
conteúdo de fruta e pinceladas de
certo defumado e pimentão. Impressiona igualmente bem o Cerasuolo de Vittoria 99, da Azienda
Agrícola COS, corte de uvas nero
d'avola e frappato, de paladar rico
marcado por jabuticaba, frutas
vermelhas, chá preto e especiaria.
O destaque absoluto entre eles,
porém, é o Palari 98, um Faro, diminuta denominação de origem
da comuna de Messina. Corte de
uvas pouco habituais (nerello
mascalese, nerello capuccio, acitana, nocera e tignolino) e envelhecido em carvalho francês, com
seu aroma potente (baunilha, cassis, geléias) e seu paladar amplo e
longo marcado por madeira e fruta concentrada, o Palari deixa claro que os grandes vinhos italianos
podem nascer também fora do
Piemonte e da Toscana.
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