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FESTIVAL DE CURITIBA
"O AUTO DOS BONS TRATOS"
Diretores Márcio Marciano e Sérgio de Carvalho não repetem sucesso conseguido antes
Latão usa monocórdico contra o cordial
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
A Companhia do Latão
apresentou uma montagem
inacabada na Mostra Contemporânea. Sem vitalidade e com um
didatismo reducionista, fez o público debandar do teatro na estréia. O fato não seria desabonador para um grupo que se lançou
justamente a partir do conceito de
ensaio aberto (o consagrado "Ensaio sobre o Latão"). Mas não se
pode ser condescendente com o
Latão por duas razões.
Primeiro porque, ao se nortearem por importantes questões
políticas (a estrutura do poder em
vários momentos históricos do
Brasil), os diretores Márcio Marciano e Sérgio de Carvalho costumam ostentar um certo menosprezo por outras linhas de teatro
que não adotam as mesmas prioridades e as mesmas técnicas
brechtianas "ortodoxas". Exercendo episodicamente a função
de críticos, como se considerassem mera diversão burguesa tudo
o que não pertencesse ao teatro
que escolheram. Não podem pois
contar com a generosidade que
não têm para com os outros.
Depois, e sobretudo, não se pode aceitar tão pouco de um grupo
que tem tantos trunfos. Ney Piacentini, Heitor Goldfuss e Marcos
de Andrade são excelentes atores,
que dominam com humor e precisão o "gestus" brechtiano, técnica que permite caracterizar instantaneamente, só com a postura
e gesto, não só as personagens na
fábula mas sua função na estrutura social retratada. O cenário de
Antônio Marciano é elegante e altamente funcional. O texto dos diretores tem momentos de ironia
afiada e uma fluência que, às vezes, se torna poética.
O problema é que o texto é um
verniz que dá brilho a uma maciça
e enfadonha "tese", que paralisa
os atores e obriga Helena Albergaria, atriz de delicadeza desperdiçada, a impostar a voz para atingir as massas, nessa altura já anestesiadas pelo monocórdico canto
(brechtiano?).
A propósito: a desinteressante
trama procura, com ingênua empáfia, fazer o público duvidar da
tese de que o brasileiro é cordial.
Não estivesse o público tão mal
acostumado com as "diversões
burguesas", aprenderia a lição
-isto é, tivesse ele a cordialidade
de não dormir, e ficar até o fim.
Avaliação:
O crítico Sergio Salvia Coelho e o jornalista Valmir Santos viajam a convite
da organização do 11º Festival de Teatro
de Curitiba
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