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"HYSTERIA"
"Hysteria" encanta a platéia pela delicadeza
DO ENVIADO A CURITIBA
Montagens que tentam interagir à força com a platéia
têm muito a aprender com o Grupo 19 de Teatro. A partir do universo de um hospício feminino
carioca no final do século 19, e sob
orientação de Antônio Araújo, do
Teatro da Vertigem, o diretor e
dramaturgista iniciante Luiz Fernando Marques dá em "Hysteria"
provas de grande maturidade, ao
usar recursos do teatro experimental para aprofundar temas
delicados.
Ao separar a platéia por gênero,
consegue criar uma intimidade
entre as mulheres (as cinco atrizes
e as 20 mulheres da platéia, que
sentam lado a lado em bancos),
promovendo com cuidado uma
troca de confidências que é observada por 20 homens, sentados em
duas fileiras mais afastadas.
O procedimento é altamente
eficaz, permitindo solos de atrizes
igualmente iniciantes, mas que se
inserem sem ostentação no seleto
grupo dos atores-compositores,
que pesquisam seu texto, encontram a marcação em cumplicidade com o diretor e estão aptas, assim, a se moldar às reações da platéia, a improvisar a partir do acaso, sem perder as personagens.
Pela visão distanciada que a
montagem propõe aos homens,
questões relegadas a superadas
discussões feministas ressurgem
com força: a repressão social ao
desejo feminino, a solidão e a solidariedade entre mulheres, as utopias de transgressão ou só (ou seria sobretudo?) a beleza de um
corpo feminino, que não se revela
nas revistas ditas masculinas.
Aos poucos, cada indivíduo vai
surgindo com vigor na trama, não
só entre as atrizes, mas também
entre as "atrizes convidadas" da
platéia. "Hysteria" dá visibilidade
ao mais recôndito segredo feminino. E, é bom ressaltar, sensibilizando a todos: olhos também se
marejam na ala masculina.
(SERGIO SALVIA COELHO)
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