São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 2002

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

Artista lança álbum "Outro" e produz CD do pai

Jairzinho, Jair, Jairzão

DA REPORTAGEM LOCAL

Tentando concluir a longa travessia à vida adulta, o sempre Jairzinho, 27, se torna Jair Oliveira ao lançar "Outro", seu segundo álbum da fase Trama. Ao mesmo tempo, vitamina outra face, produzindo o novo disco de um outro Jair, o Rodrigues, 63, seu pai.
Sob o fantasma do pequerrucho que cantava na Turma do Balão Mágico, Jairzinho, ops, Jair acumulou graduações para chegar ao atual estágio duplo. Formou-se em música, especializado em produção, em Berklee. Estagiou na Elektra de Nova York, acompanhando gravações black power de Missy Elliott, Busta Rhymes etc.
O advento da Trama possibilitou sua entrada no mercado como cantor e autor, mas ele alimenta o sonho de conciliação. "Minha carreira de produtor é tão importante quanto a outra, porque elas se complementam", diz.
Percorrendo vias de rhythm'n" blues, samba, samba-jazz e black Rio, "Outro" lida com eletrônica, mas dá guarida a artistas de outros tempos, como o baladeiro setentista Don Betto e o crooner paulistano José Domingos.
Esse último declama, em vinheta, um poema a São Paulo, que se cola a "Uma Outra Beleza", inegável réplica de Jair a "Sampa", de Caetano Veloso. "Adoro "Sampa", tanto letra quanto melodia, mas discordo um pouco da mensagem que passa. Fico pensando na "deselegância discreta" das meninas daqui e não concordo. O que não há aqui é praia, biquíni, mas elas são bonitas, elegantes. Não tenho vergonha de dizer que sou um músico paulistano", desabafa.
"Vergonha", por quê? "Falo assim para não parecer bairrista, não porque não tenha orgulho", explica ele, que não dispensa o socorro dos vocais cariocas de Ed Motta, co-autor e co-cantor de "Amor e Saudade".
O balanço de gerações musicais se repete no outro trabalho, o de produzir o primeiro CD de estúdio de Jair Rodrigues em quatro anos. Entre os mais jovens, trouxeram a participação de uma das figuras de ponta do rap paulistano, Rappin" Hood. Jair pai conta:
"Em 64, gravei "Deixa Isso pra Lá", que hoje é considerada uma precursora do rap. No ano seguinte, gravei outra da mesma praia, "Ziguezague", de que agora me lembrei. Tivemos a idéia de colocar o Wilson Simoninha para cantar comigo, e Rappin" Hood faz um rap novo dentro da faixa".
Olhando para o outro lado da ponte, Jairzão gravou "Saudosa Maloca", como homenagem ao sambista-símbolo de São Paulo Adoniran Barbosa. Subindo uma geração na homenagem, regravou um dos primeiros sucessos da ex-parceira Elis Regina. Registrou "Arrastão", segundo Jairzinho, nos tons femininos que Elis usava.
No dia em que a Folha acompanhou pai e filho no estúdio, eles gravavam o samba-rock "Meu Guarda-Chuva", de Jorge Ben, lançada por Elizabeth Viana e recentemente tornada cult com a moda samba-rock. Agora Jair revela que foi composta para ele.
"Quando era solteiro, eu e Jorge saíamos sempre juntos para a noite de São Paulo. Uma vez estava chovendo, e íamos saindo quando minha namorada apareceu querendo ir junto. Dei alguma desculpa, falei que só eu tinha guarda-chuva, e nos mandamos. Jorge só dava risada, e fez a música no carro mesmo", conta.
O novo disco do primeiro Jair só deve sair no segundo semestre. O "Outro" já está no mercado.


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