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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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Brasilienses montam "circo-presépio-espacial"

VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Eles nasceram na fé, viveram na esperança e morreram na caridade. Morreram ainda de fome, de cachaça, de raiva e até de susto. Em vez de covas, os sete personagens-defuntos de "Presépio de Hilaridades Humanas" jazem em redes de dormir, de onde proseiam sobre assombrações e o derradeiro suspiro de cada um.
Em sua primeira viagem, a Brasil no Palco Cia. Ilimitada, de Brasília, traz para o Fringe uma livre adaptação do terceiro ato da peça "A Pena e a Lei", do paraibano-pernambucano Ariano Suassuna. A adaptação de Marcus Vinícius de Almeida agrega trechos de "O Auto da Compadecida" e mesmo sonetos de Suassuna.
O espetáculo ocupa um barracão em Curitiba. As sete redes estão suspensas numa estrutura circular com dez metros de diâmetro. O público fica sentado ali ou nas arquibancadas de fora.
Segundo as diretoras Bárbara Tavares, 28, e Caísa Tibúrcio, 23, a idéia do espaço é a representação do mundo à parte, ritualístico, construído pela encenação.
Um microcosmo do qual fazem parte o presepeiro Benedito, o retirante Joaquim, a ex-prostituta Madalena, o padre Antônio, o poeta João, o fazendeiro Vicentão e o caminhoneiro Pedro.
Eles têm um acerto de contas com Deus e a Morte, arquétipos que despontam das alturas pendurados em panos.
Tudo é costurado pela menestrel Cheirosa. Há ainda a contracena com os músicos que tocam ao vivo. Sem o virtuosismo acrobático e com muita fé na expressão da cultura popular transformada pelos candangos (a população que migrou de outros Estados para Brasília), eis o "circo-presépio-espacial", como querem as diretoras, um projeto que envolve 18 pessoas, a maioria formada por estudantes da Universidade de Brasília.
O espetáculo estreou há três anos, no campus universitário. Conta com apoio da funerária Bom Samaritano e do clube de meditação Amygo. Mais hilário, impossível.


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