São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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Edição de livro e DVD "rejuvenescem" Asdrúbal

Felipe Varanda/Folha Imagem
Integrantes do grupo teatral carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone, cuja trajetória é lembrada em livro e DVD


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Trinta anos de lendas, memórias dispersas e relatos orais estão se transformando em livro. Dois meses depois de sair a edição da peça "Trate-me Leão", hoje é a vez de ser lançado, no Rio, "Asdrúbal Trouxe o Trombone" (Aeroplano, 236 págs.; R$ 52), obra de Heloisa Buarque de Hollanda, 65, que revê os caminhos da trupe criada há 30 anos por Hamilton Vaz Pereira, Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães e outros.
"Nós éramos índios, tínhamos só uma história verbal. Agora estamos virando civilização", diz Perfeito Fortuna, 54, sobre a chegada do Asdrúbal ao papel. "Já somos verbete, cultura", brinca Patricia Travassos, 52.
As frases não significam que o Asdrúbal esteja se mumificando. O lançamento do livro já indica isso. Será uma grande festa na Fundição Progresso, na Lapa, com um show relembrando as músicas do espetáculo "A Farra da Terra", leitura de trechos de "Trate-me Leão" e "nhoque da fortuna" servido aos cerca de 700 convidados. Regina Casé, 49, chega do Acre para participar da festa.
Mas é o próprio livro que serve como prova da aversão dos Asdrúbals à nostalgia. Amiga e fã da trupe, Buarque de Hollanda diz que não viu sentido em escrever um ensaio sisudo sobre a importância da companhia. Apostou num livro colorido, fartamente ilustrado e de narrativa fragmentada. O texto é acompanhado por depoimentos dos atores, como se fosse interrompido por eles.
"Chamo de doculivro. É um livro em movimento, um documentário em papel. Seria absurdo tirar as vozes deles, são todos muito engraçados. Procurei mimetizar a fala deles no texto, para que o livro ficasse com a cara do grupo", diz Buarque de Hollanda.
A cara do grupo nos anos 70 está lembrada num DVD que vem encartado no livro: "Xarabovalha" é um documentário feito pela autora a partir de apresentações de "Trate-me Leão". Ao se verem no filme, lerem suas histórias no livro e relerem o texto do mais famoso dos cinco espetáculos que fizeram em dez anos de atividade, os atores dizem que se sentiram bem menos envelhecidos do que se poderia supor.
"Sinto como se tudo tivesse ocorrido só há dez anos. Tirando uma palavra ou outra, "Trate-me" continua totalmente atual", afirma Travassos. "Iniciação sexual, problemas de família, falta de trabalho, tudo o que a gente tratava na peça continua aí", diz Fortuna.
Para Luiz Fernando Guimarães, 53, não procede a idéia de que o sucesso do Asdrúbal se deva pelo fato de que os atores falavam dos próprios problemas. "Quando fizemos "Trate-me", por exemplo, já tínhamos 20 e tantos anos e passado há muito tempo de iniciação sexual e outras coisas. Falávamos da vida de todo mundo."
O Asdrúbal surgiu em 1974 encabeçado por Hamilton Vaz Pereira e Regina Casé. As duas primeiras montagens foram desconstruções de textos antigos: "O Inspetor Geral", de Gógol, e "Ubu", de Alfred Jarry. Foi com "Trate-me Leão" (77), que se consolidaram as principais características da trupe: criação coletiva (organizadas por Hamilton), atores se misturando com personagens, temas comuns à juventude.
Ainda que com um pouco menos de sucesso, o Asdrúbal continuou com "Aquela Coisa Toda" (1980) e "A Farra da Terra" (1983). E a fazer história não só em Ipanema, como acusavam seus críticos. "Em Porto Alegre, por exemplo, era como se fôssemos os Beatles. E em toda cidade havia gente querendo nos seguir", lembra a atriz Nina de Pádua, 48.


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