São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fina estampa

Mostras celebram gravuras de Maria Bonomi e de artistas inspirados pelo ateliê de Iberê Camargo, no RS

TEREZA NOVAES
DO GUIA DA FOLHA

O relevo da gravura brasileira contemporânea se desenha em duas exposições que o Centro Universitário Maria Antonia inaugura hoje. Nas duas salas principais, figuram uma retrospectiva de Maria Bonomi e uma coletiva de trabalhos produzidos no ateliê de Iberê Camargo (1914-1994), em Porto Alegre.
"Arte Contemporânea no Ateliê Iberê Camargo" tem curadoria da crítica e professora da ECA-USP Sônia Salzstein e de Eduardo Haesbaert, que foi assistente de gravuras de Iberê e é coordenador do projeto que convida artistas de renome para trabalhar na oficina que pertenceu ao gaúcho.
Mantido pela Fundação Iberê Camargo -que, no ano passado, realizou uma retrospectiva de suas pinturas na Pinacoteca-, o projeto "Artista Convidado" funciona desde 2000, organizando oficinas e estimulando o desenvolvimento da técnica, inclusive entre os que não são gravadores.
A lista dos participantes inclui nomes notoriamente ligados à gravura, caso de Anna Bella Geiger, Carmela Gross, Cláudio Mubarac, Carlos Zílio e Evandro Carlos Jardim, e também artistas que pouco a exploraram, como Carlos Vergara e Siron Franco.
Todos eles estão na exposição, que reúne 20 artistas com passagem pela residência, além do próprio Iberê, representado por 12 gravuras em metal. Exibidas em quatro mesas, elas estampam alguns de seus temas mais caros -os carretéis e as ciclistas- que pontuaram os anos 60 e os anos 90, respectivamente.
Entre os convidados, há interessantes resultados, sobretudo entre aqueles que não são do ramo. O gaúcho Mauro Fuke, conhecido pelas intricadas esculturas de madeira, mostra duas obras inspiradas nos projetos de seus objetos, e o fotógrafo carioca Miguel Rio Branco expõe três gravuras abstratas nas quais se entrevê vultos. Destacam-se ainda três gravuras de Amilcar de Castro (1920-2002) feitas pouco antes de sua morte.
A carreira de Maria Bonomi, 69, é revista a partir de suas gravuras, englobando produção desde a década de 50 até hoje. As obras foram selecionadas pelo diretor do Ceuma, Lorenzo Mammì, e por João Bandeira. "A idéia surgiu quando participei de uma mesa-redonda com Bonomi. Sempre se fala dela, os painéis que ela produz estão na avenida Paulista, no metrô, mas não me lembrava de uma exposição que mostrasse sua produção anterior, que é muito atípica", justifica Mammì.
As xilogravuras são alinhavadas não somente pelo caráter cronológico, mas por sua construção, feita com peças modulares de madeira em diversas combinações, e pelo caráter artesanal de seu processo de gravação, que usava colher em vez de prensa, dependendo do tamanho do trabalho.
"Ela faz permutações, combina diferentes matrizes, as justapõem e usa diferentes cores de tinta. É nesse processo que ela começa a se definir como gravadora", diz Bandeira.
No início de sua carreira, na década de 50, Bonomi chegou a estudar pintura com Yolanda Mohalyi, mas logo passou a se dedicar a gravura, tendo aulas com Lívio Abramo. A virada definitiva aconteceu durante uma estada em Nova York, onde recebeu uma bolsa para estudar gravação e realizou uma elogiada exposição.
O contato com os concretistas brasileiros, em especial Waldemar Cordeiro, e com os pintores da geração da "action painting", na década de 60, nos EUA, marcam os trabalhos de Bonomi com grafismos e uma certa gestualidade, que parece reproduzir os respingos de Pollock.
No final dos 60, as gravuras ganham dimensões maiores e, na Bienal de Paris de 67, a artista tem que brigar para pendurá-las na parede, o que até então não era praxe. A peleja não foi em vão, "A Águia", que está na exposição do Ceuma, acabou sendo premiada.


ARTE CONTEMPORÂNEA NO ATELIÊ IBERÊ CAMARGO/MARIA BONOMI. Onde: Centro Universitário Maria Antônia (r. Maria Antônia, 294, SP, tel. 0/ xx/ 11/3237-1815). Quando: a partir de hoje, às 20h; de seg. a sex., das 12h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 18h. Até 13/ 6. Quanto: entrada franca.


Texto Anterior: Contardo Calligaris: Benjamim Zambraia e Tom Ripley
Próximo Texto: Artista cria a partir de manifestos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.