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Fina estampa
Mostras celebram gravuras de Maria Bonomi e de artistas inspirados pelo ateliê de Iberê Camargo, no RS
TEREZA NOVAES
DO GUIA DA FOLHA
O relevo da gravura brasileira
contemporânea se desenha em
duas exposições que o Centro
Universitário Maria Antonia
inaugura hoje. Nas duas salas
principais, figuram uma retrospectiva de Maria Bonomi e uma
coletiva de trabalhos produzidos
no ateliê de Iberê Camargo (1914-1994), em Porto Alegre.
"Arte Contemporânea no Ateliê
Iberê Camargo" tem curadoria da
crítica e professora da ECA-USP
Sônia Salzstein e de Eduardo
Haesbaert, que foi assistente de
gravuras de Iberê e é coordenador
do projeto que convida artistas de
renome para trabalhar na oficina
que pertenceu ao gaúcho.
Mantido pela Fundação Iberê
Camargo -que, no ano passado,
realizou uma retrospectiva de
suas pinturas na Pinacoteca-, o
projeto "Artista Convidado" funciona desde 2000, organizando
oficinas e estimulando o desenvolvimento da técnica, inclusive
entre os que não são gravadores.
A lista dos participantes inclui
nomes notoriamente ligados à
gravura, caso de Anna Bella Geiger, Carmela Gross, Cláudio Mubarac, Carlos Zílio e Evandro Carlos Jardim, e também artistas que
pouco a exploraram, como Carlos
Vergara e Siron Franco.
Todos eles estão na exposição,
que reúne 20 artistas com passagem pela residência, além do próprio Iberê, representado por 12
gravuras em metal. Exibidas em
quatro mesas, elas estampam alguns de seus temas mais caros
-os carretéis e as ciclistas- que
pontuaram os anos 60 e os anos
90, respectivamente.
Entre os convidados, há interessantes resultados, sobretudo entre aqueles que não são do ramo.
O gaúcho Mauro Fuke, conhecido
pelas intricadas esculturas de madeira, mostra duas obras inspiradas nos projetos de seus objetos, e
o fotógrafo carioca Miguel Rio
Branco expõe três gravuras abstratas nas quais se entrevê vultos.
Destacam-se ainda três gravuras
de Amilcar de Castro (1920-2002)
feitas pouco antes de sua morte.
A carreira de Maria Bonomi, 69,
é revista a partir de suas gravuras,
englobando produção desde a década de 50 até hoje. As obras foram selecionadas pelo diretor do
Ceuma, Lorenzo Mammì, e por
João Bandeira. "A idéia surgiu
quando participei de uma mesa-redonda com Bonomi. Sempre se
fala dela, os painéis que ela produz estão na avenida Paulista, no
metrô, mas não me lembrava de
uma exposição que mostrasse sua
produção anterior, que é muito
atípica", justifica Mammì.
As xilogravuras são alinhavadas
não somente pelo caráter cronológico, mas por sua construção,
feita com peças modulares de madeira em diversas combinações, e
pelo caráter artesanal de seu processo de gravação, que usava colher em vez de prensa, dependendo do tamanho do trabalho.
"Ela faz permutações, combina
diferentes matrizes, as justapõem
e usa diferentes cores de tinta. É
nesse processo que ela começa a
se definir como gravadora", diz
Bandeira.
No início de sua carreira, na década de 50, Bonomi chegou a estudar pintura com Yolanda Mohalyi, mas logo passou a se dedicar a gravura, tendo aulas com Lívio Abramo. A virada definitiva
aconteceu durante uma estada
em Nova York, onde recebeu uma
bolsa para estudar gravação e realizou uma elogiada exposição.
O contato com os concretistas
brasileiros, em especial Waldemar Cordeiro, e com os pintores
da geração da "action painting",
na década de 60, nos EUA, marcam os trabalhos de Bonomi com
grafismos e uma certa gestualidade, que parece reproduzir os respingos de Pollock.
No final dos 60, as gravuras ganham dimensões maiores e, na
Bienal de Paris de 67, a artista tem
que brigar para pendurá-las na
parede, o que até então não era
praxe. A peleja não foi em vão, "A
Águia", que está na exposição do
Ceuma, acabou sendo premiada.
ARTE CONTEMPORÂNEA NO ATELIÊ
IBERÊ CAMARGO/MARIA BONOMI.
Onde: Centro Universitário Maria
Antônia (r. Maria Antônia, 294, SP, tel. 0/
xx/ 11/3237-1815). Quando: a partir de
hoje, às 20h; de seg. a sex., das 12h às
21h; sáb. e dom., das 10h às 18h. Até 13/
6. Quanto: entrada franca.
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