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CDS
INSTRUMENTAL
Jam sessions caseiras foram registradas por trompetista radicado no Rio
Gravadora inglesa descobre disco inédito de João Donato
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Parece mentira. Um disco inédito de João Donato de 1973, auge
da carreira do pianista que passou
revolucionário pela bossa nova,
pelo jazz, pelo funk e pelo pop dos
anos 70. A valiosa descoberta,
chamada de "A Blue Donato", está sendo lançada comercialmente
pela primeira vez pelo selo inglês
Whatmusic, que já se especializou
em resgatar maravilhas obscuras
da música brasileira e ultimamente tem se esmerado também em
descobrir preciosidades inéditas,
esquecidas em estantes e ignoradas por produtores tupiniquins.
Através dessa aula de orgulho
brasileiro dada pelos ingleses já
surgiram dois outros discos: "Valley Samba", do trio de samba-jazz Rio 3, formado por Osmar
Milito (piano), Ronie Mesquita
(bateria) e Otávio Bailly Jr (baixo),
e "Mailbag Blues", espécie de trilha sonora da vida do famoso ladrão de trem Ronald Biggs, feita
por virtuosos músicos brasileiros
de jazz-rock, com elementos de
funk e bossa. Ambos os discos foram gravados no Brasil em meados dos anos 60 e 70, mas nunca
haviam sido lançados -até os
pesquisadores da Whatmusic os
descobrirem. O selo inglês não
tem distribuição no Brasil, mas
seus lançamentos podem ser adquiridos em lojas de importados
ou pelo site da gravadora (www.whatmusic.com).
Jam sessions
No novo-velho lançamento de
João Donato, a produção não foi
propriamente a de um disco, mas
simples (ou nem tão simples) gravações caseiras de jam sessions
feitas pelo pianista e amigos, felizmente registradas à época em um
gravador de quatro canais por Bill
Horne, trompetista americano radicado no Rio. Participavam ainda das improvisações coletivas (e
aparecem no disco) músicos como o baterista Edison Machado, o
trombonista Edson Maciel e o
flautista Ion Muniz.
Donato relembra: "O Bill Horne
tinha um estúdio na casa dele.
Uma salinha, ali, do lado da sala,
da cozinha, do banheiro. A gente
ia lá visitar, conversar, até que nós
olhávamos e dizíamos: "Vamos lá
pra dentro?". Aí, quando fechava a
porta, o couro comia. Ele apertava
o "rec" e saía correndo pra tocar. A
gente não tinha arranjo, cada um
ia criando na hora. Nunca era
igual. Nós não ensaiávamos repertório, algumas coisas tocávamos sempre, outras, apenas uma
vez. No final, ele ficou com centenas de horas de gravação. A qualidade é caseira e duvidosa, mas o
conteúdo é ótimo [risos]".
Um dos grandes momentos do
álbum é a singela versão bossificada de "Mimosa", do jazzista Herbie Hancock. A composição de
1963 é completamente reinventada, com piano acústico delicado,
violão com batida de bossa, bateria suave e harmonias vocais em
"scat singing" de Donato e da cantora/violonista Tita. Outro ponto
alto é a estimulante versão improvisada, intimista e jazzística de
"Message from the Nile", música
de 1970 do pianista McCoy Tyner.
História
Músico fundamental da bossa
nova, João Donato lançou importantes discos instrumentais nos
anos 60. Pouco depois, foi morar
nos EUA e tocou por longas temporadas com músicos de jazz como Chet Baker. Nos anos 70, depois de breve fase jazz-funk, voltou ao Brasil e passou a produzir
gravações de cantores como Gal
Costa, além de lançar alguns de
seus melhores álbuns, estreando
como cantor. Foi por essa época,
também, que composições suas
como "A Paz" e "Bananeira" passaram a ganhar letra de parceiros
como Gilberto Gil.
Mais recentemente, em junho
de 2004, gravou novo disco com o
saxofonista norte-americano Bud
Shank, reprisando parceria criada
nos anos 60, em um clássico disco
que contava também com Rosinha de Valença. O novo álbum da
parceria piano/sax será lançado
no segundo semestre pelo selo
Barravento Music.
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