São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Fagner desanca sua geração em entrevista

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O programa vai transcorrendo ameno, uma coisa assim sem assunto. Mas então a entrevistadora Lorena Calábria resolve perguntar a seus focalizados do "Ensaio Geral", Raimundo Fagner e Zeca Baleiro, sobre seus inícios de carreira, sobre as relações com os colegas músicos nos primeiros anos de migrantes nordestinos no Sudeste do Brasil.
Baleiro mantém a amenidade. Conta de quando morou com Chico César em São Paulo, diz que tudo ia bem. "Ainda não havia para mim Rita Lee", brinca.
Mas aí chega a vez de Fagner, e o sabor de veneno toma conta do programa do Multishow. O bardo cearense diz que morou numa quitinete com duas camas, oito pessoas, no Rio. "Era só briga, guerra. Não tenho a menor saudade da minha geração", diz, citando nominalmente os também geniais Ednardo e Belchior.
Completa que eles foram grandes parceiros para ele, mas só enquanto viviam no Ceará. A migração se converteu em diáspora.
"No Rio, fui salvo por uma outra turma que não me conhecia." Que turma o acolheu? Elis Regina, Nara Leão, Chico Buarque.
Fagner, notório bocudo, segue falando de outras turmas. Conta que foi próximo de Cazuza, tanto em seus melhores momentos como nos piores -moravam no mesmo prédio quando a Aids já avançava; Fagner ajudava a cuidar dele, hoje é mais um inscrito na legião de excluídos do filme que está em cartaz.
Zeca Baleiro, esse, ouve as histórias do outro, não conta as suas. Revela-se (e revela riquezas ao espectador) quando pede que o programa passe um vídeo dos grandes Originais do Samba, todos de ternos alaranjados. No mais, canta belas músicas com seu ídolo temperamental, observa-o com respeito, fascínio e reticência. Haverá o dia em que Zeca começará, ele próprio, a contar histórias maranhenses para a gente ouvir. Professor Fagner é escola para dar e vender.


ENSAIO GERAL - quando: hoje, às 22h45, no Multishow.


Texto Anterior: Fórum Cultural Mundial: Filme traz a dor da guerra por um afegão
Próximo Texto: Fernando Bonassi: Considerações sobre o teatro que interessa fazer e ver
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.