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MÚSICA
Fagner desanca sua geração em entrevista
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O programa vai transcorrendo
ameno, uma coisa assim sem assunto. Mas então a entrevistadora
Lorena Calábria resolve perguntar a seus focalizados do "Ensaio
Geral", Raimundo Fagner e Zeca
Baleiro, sobre seus inícios de carreira, sobre as relações com os colegas músicos nos primeiros anos
de migrantes nordestinos no Sudeste do Brasil.
Baleiro mantém a amenidade.
Conta de quando morou com
Chico César em São Paulo, diz
que tudo ia bem. "Ainda não havia para mim Rita Lee", brinca.
Mas aí chega a vez de Fagner, e o
sabor de veneno toma conta do
programa do Multishow. O bardo
cearense diz que morou numa
quitinete com duas camas, oito
pessoas, no Rio. "Era só briga,
guerra. Não tenho a menor saudade da minha geração", diz, citando nominalmente os também
geniais Ednardo e Belchior.
Completa que eles foram grandes parceiros para ele, mas só enquanto viviam no Ceará. A migração se converteu em diáspora.
"No Rio, fui salvo por uma outra turma que não me conhecia."
Que turma o acolheu? Elis Regina,
Nara Leão, Chico Buarque.
Fagner, notório bocudo, segue
falando de outras turmas. Conta
que foi próximo de Cazuza, tanto
em seus melhores momentos como nos piores -moravam no
mesmo prédio quando a Aids já
avançava; Fagner ajudava a cuidar dele, hoje é mais um inscrito
na legião de excluídos do filme
que está em cartaz.
Zeca Baleiro, esse, ouve as histórias do outro, não conta as suas.
Revela-se (e revela riquezas ao espectador) quando pede que o
programa passe um vídeo dos
grandes Originais do Samba, todos de ternos alaranjados. No
mais, canta belas músicas com
seu ídolo temperamental, observa-o com respeito, fascínio e reticência. Haverá o dia em que Zeca
começará, ele próprio, a contar
histórias maranhenses para a
gente ouvir. Professor Fagner é
escola para dar e vender.
ENSAIO GERAL - quando: hoje, às
22h45, no Multishow.
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