São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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NINA HORTA

As histórias dos leitores

Última crônica da colunista, sobre trens, repercute entre o público e traz lembranças e cheiros de infância

QUE SUSTO! Olhem um milésimo da reação dos leitores à última crônica em que falei de trem! "... Esse meio de transporte maravilhoso que infelizmente nossos insensíveis e coniventes lobistas governantes enterraram de vez (...). Ah, as estações pequenas do meu rincão paulista; pequenos bares ou ambulantes oferecendo biscoitos e balas pelas janelas do vagão."
"... [A destruição dos trens de passageiros] Isso faz parte do grande equívoco da nossa industrialização "afoita" e não moderna. A ilusão de que o petróleo era eterno criou em nossa pátria as idéias de que as estradas de rodagem seriam as soluções do futuro..." "Lembro-me muito bem que nos meus três anos de idade tentava construir no quintal da minha casa, com pedrinhas, gravetos etc., uma via férrea onde, na minha inocência, circularia um trem de verdade (...) e hoje tenho o pesadelo de ver os carros inoxidáveis Budd sendo dilapidados em Santos Dumont; de ver as linhas da ex-Cia. Paulista em petição de miséria."
"Outros freqüentadores eram o Jô, o Chacrinha e o Vinicius." "Toquinho, Ciro Monteiro, Nara Leão, Carlos Lacerda no trem dos covardes." "Ontem você me tocou na corda proustiana: nada melhor de recordação culinária da infância do que o bife (era um filé mignon alto, batido, frito na frigideira com manteiga, com batata frita e guaraná champagne). O trem Pullman, da Companhia Paulista de Estrada de Ferro. Destino Araraquara... Fazenda do meu avô, com o gosto do bife ainda na boca. Era muito bom também o misto quente, que as crianças podiam comer no... fumoir!"
"Temos espaço e teríamos condições de incrementar a malha ferroviária por todo país, a exemplo da Europa. Mas nossos políticos são bem mais espertos, inteligentes e audaciosos. Jamais se renderiam a um transporte rápido, limpo e "obsoleto" como o trem."
"Até o pão que vinha antes era bom. E a água mineral com gás fornecida por uma cidade da rota: Jaguariúna. Bem, de sobremesa tinha goiabada com queijo de Uberaba e ali tinha tanto mato que a goiabada era feita de goiabas ainda selvagens, tinha da cascão, da molinha de comer com colher. A um certo ponto da viagem, velhinhas de um asilo vendiam cajus sensacionais.
Em outro ponto havia uvas maduras e bem caipiras."
"Ah, como me lembro, com quanta saudade dos lençóis do trem, limpíssimos, um pouquinho de goma só (....) B. adorando a cama de cima e L. atazanando, porque queria e queria virar maquinista de trem (...)" "Fomos convidados a desenvolver um projeto muito bacana em Ouro Preto e Mariana. A recuperação do trecho entre as duas cidades. (...) O vagão de Mariana é administrado pelo pessoal da padaria Bonomi, aqui de BH (...). Era um vagão todo de jacarandá com tapete verde-musgo (...) e parece que o Tom Waits vai aparecer a qualquer momento para tomar um gin tônica no vagão... (www.tremdavale.com.br)." "E perguntei pro M. o que era o cheiro de trem de que eu tanto gostava, é o cheiro de Paranapiacaba, de minhas viagens de trem para o Paraná. Ele disse que é cheiro de freio. Ah, como adoro cheiro de freio!" "Que barato esta história do cheiro! Ele traz mais reminiscências que os outros sentidos, não? Ou as traz mais inteiras."
"A Cia. Paulista de Estrada de Ferro... o Trem Azul (...) Foi o maior padrão de conforto ferroviário jamais visto no Brasil." Divirtam-se com os sites www.abottc.com.br; www.trembrasil.org.br e www.trainsunlimitedtours.com/
greatbrazilianrailfanspectacular.html
e com uma série de seis DVDs com o nome "World Class Trains".

ninahorta@uol.com.br


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