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NINA HORTA
As histórias dos leitores
Última crônica da colunista, sobre trens, repercute entre
o público e traz lembranças
e cheiros de infância
QUE SUSTO! Olhem um milésimo da reação dos leitores à
última crônica em que falei
de trem! "... Esse meio de transporte
maravilhoso que infelizmente nossos insensíveis e coniventes lobistas
governantes enterraram de vez (...).
Ah, as estações pequenas do meu
rincão paulista; pequenos bares ou
ambulantes oferecendo biscoitos e
balas pelas janelas do vagão."
"... [A destruição dos trens de passageiros] Isso faz parte do grande
equívoco da nossa industrialização
"afoita" e não moderna. A ilusão de
que o petróleo era eterno criou em
nossa pátria as idéias de que as estradas de rodagem seriam as soluções do futuro..." "Lembro-me muito bem que nos meus três anos de
idade tentava construir no quintal
da minha casa, com pedrinhas, gravetos etc., uma via férrea onde, na
minha inocência, circularia um
trem de verdade (...) e hoje tenho o
pesadelo de ver os carros inoxidáveis Budd sendo dilapidados em
Santos Dumont; de ver as linhas da
ex-Cia. Paulista em petição de miséria."
"Outros freqüentadores eram o
Jô, o Chacrinha e o Vinicius." "Toquinho, Ciro Monteiro, Nara Leão,
Carlos Lacerda no trem dos covardes." "Ontem você me tocou na
corda proustiana: nada melhor de
recordação culinária da infância do
que o bife (era um filé mignon alto,
batido, frito na frigideira com manteiga, com batata frita e guaraná
champagne). O trem Pullman, da
Companhia Paulista de Estrada de
Ferro. Destino Araraquara... Fazenda do meu avô, com o gosto do
bife ainda na boca. Era muito bom
também o misto quente, que as
crianças podiam comer no... fumoir!"
"Temos espaço e teríamos condições de incrementar a malha ferroviária por todo país, a exemplo da
Europa. Mas nossos políticos são
bem mais espertos, inteligentes e
audaciosos. Jamais se renderiam a
um transporte rápido, limpo e "obsoleto" como o trem."
"Até o pão que vinha antes era
bom. E a água mineral com gás fornecida por uma cidade da rota: Jaguariúna. Bem, de sobremesa tinha
goiabada com queijo de Uberaba e
ali tinha tanto mato que a goiabada
era feita de goiabas ainda selvagens, tinha da cascão, da molinha
de comer com colher. A um certo
ponto da viagem, velhinhas de um
asilo vendiam cajus sensacionais.
Em outro ponto havia uvas maduras e bem caipiras."
"Ah, como me lembro, com
quanta saudade dos lençóis do
trem, limpíssimos, um pouquinho
de goma só (....) B. adorando a cama
de cima e L. atazanando, porque
queria e queria virar maquinista de
trem (...)"
"Fomos convidados a desenvolver um projeto muito bacana em
Ouro Preto e Mariana. A recuperação do trecho entre as duas cidades. (...) O vagão de Mariana é administrado pelo pessoal da padaria
Bonomi, aqui de BH (...). Era um
vagão todo de jacarandá com tapete verde-musgo (...) e parece que o
Tom Waits vai aparecer a qualquer
momento para tomar um gin tônica no vagão... (www.tremdavale.com.br)." "E perguntei pro M. o
que era o cheiro de trem de que eu
tanto gostava, é o cheiro de Paranapiacaba, de minhas viagens de
trem para o Paraná. Ele disse que é
cheiro de freio. Ah, como adoro
cheiro de freio!" "Que barato esta
história do cheiro! Ele traz mais reminiscências que os outros sentidos, não? Ou as traz mais inteiras." "A Cia. Paulista de Estrada de Ferro... o Trem Azul (...) Foi o maior
padrão de conforto ferroviário jamais visto no Brasil."
Divirtam-se com os sites www.abottc.com.br; www.trembrasil.org.br e www.trainsunlimitedtours.com/
greatbrazilianrailfanspectacular.html e com uma série de seis
DVDs com o nome "World Class
Trains".
ninahorta@uol.com.br
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