São Paulo, segunda, 29 de junho de 1998

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Romance perdido de Alexandre Dumas é editado na França


"La Royale Maison de Savoie" foi lançado há três semanas editora La Fontaine de Siloé e já está na segunda edição; romance, publicado semanalmente entre 1852 e 1856, em um jornal de Turim, cujos principais heróis são os aristocratas do ducado de Sabóia, que almejava o trono italiano -e a unificação do país à França-, foi achado num sebo


RODRIGO AMARAL
de Paris

Uma pequena editora colocou nas livrarias francesas um romance perdido do escritor Alexandre Dumas (1802-1870), autor de livros clássicos, como "Os Três Mosqueteiros" e "O Conde de Monte Cristo".
O primeiro volume da saga "La Royale Maison de Savoie" ("A Família Real da Sabóia") chegou há três semanas às livrarias e já está na segunda edição, somando 8.000 exemplares. Prova de que, ainda hoje, Dumas é um dos mais populares autores da França.
A publicação é obra da editora La Fontaine de Siloé, especializada na publicação de livros relacionados à história da região francesa da Sabóia (que faz fronteira com a Itália e cuja principal cidade se chama Chambéry).
Autor de mais de 300 livros, Dumas era simpático a teorias liberais, nem sempre bem-vistas pelo poder francês. Esse foi o motivo que alegou para fugir do país, em 1851, e se exilar em Turim (Itália), então parte dos domínios da família real da Sabóia.
Dívidas
Hoje, porém, sabe-se que o motivo real da fuga de Dumas deve ter sido bem menos nobre: atolado em dívidas, o já célebre escritor teria escapado de previsíveis sanções legais originadas pela decretação de sua falência pessoal.
Ele foi acolhido pela família governante da Sabóia, que também dominava o reino do Piemonte e era pretendente ao trono italiano, caso o país viesse a ser unificado (o que ocorreu em 1861, com o duque de Sabóia e rei do Piemonte, Victor-Emmanuel 2º, o primeiro soberano da Itália unificada).
Simpático à causa da unificação italiana e às pretensões da família real de Sabóia, Dumas deu sua mãozinha elaborando um extenso romance, publicado em forma de folhetim em um jornal de Turim, em que os principais heróis são os aristocratas do ducado.
Mesmo sendo publicados em Turim, o romance foi escrito em francês (que era a língua falada pelos aristocratas saboianos) e foi publicado semanalmente pelo jornal "Le Constitutionnel", entre 1852 e 1856.
Após o fim da série semanal, acabou tendo uma pequena tiragem na própria cidade italiana, mas jamais chegou à França.
Achado
"Naquela época, a sociedade francesa já não era mais simpática à causa da unificação italiana, ao contrário do livro e de Dumas", explica o historiador André Palluel-Guillard, um dos responsáveis pela redescoberta do livro.Um achado que aconteceu meio por acaso.
Professor da Universidade de Chambéry, Palluel-Guillard é especializado na reconstituição da história da região da Sabóia, assunto sobre o qual já publicou diversas obras.
Em 1985, ele e seu colega Lucien Chavoutier perambulavam por vendedores de livros antigos de Turim em busca de obras sobre a Sabóia, que possui uma forte identidade cultural e abriga até mesmo alguns movimentos que defendem sua separação da França.
Turim é uma importante fonte de pesquisa sobre a história da região por ter sido a cidade onde a família real saboiana mantinha sua residência oficial.
Em um dos sebos visitados, a dupla encontrou algumas gravuras representando a família real saboiana e foi informada pelo dono que elas pertenciam a um romance de Dumas sobre o ducado.
Eles compraram as gravuras e uma cópia do livro, um exemplar da edição da década de 1850.
Uma pesquisa posterior, porém, revelou que o romance não constava de nenhuma edição das obras completas de Dumas nem do acervo da Biblioteca Nacional da França, maior referência sobre as obras já editadas no país.
Em seguida, foi desenrolar o novelo e chegar à história do livro, tarefa nada fácil devido à rocambolesca vida pessoal de Dumas, que bem poderia ter sido um livro escrito pelo próprio.
Em 1988, Chavoutier e Palluel-Guillard publicaram um livreto sobre a visão de Dumas sobre a Sabóia, sem grande repercussão.
No ano passado, os dois decidiram procurar a editora La Fontaine de Siloé, que aceitou fazer uma edição próxima da original, inclusive com as gravuras garimpadas no sebo.
O calibre das peripécias da família real saboiana, conforme descreveu Dumas, pode ser medido pelo tamanho do primeiro volume da série: são 513 páginas do mais puro romantismo.
O restante da série vai exigir a publicação pela editora, nos próximos meses, de mais três volumes do mesmo talhe.
Segundo Palluel-Guillard, a visão um tanto idealizada de Dumas sobre a família real saboiana não contém nenhuma falsidade, ainda que seja expressa sob "um certo ponto de vista".
Ele considera, por exemplo, a figura do duque Emmanuel-Phillibert, governante da Sabóia no século 16 e principal personagem do primeiro volume da saga, "semelhante" à do personagem histórico.

Livro: La Maison Royale de Savoie Autor: Alexandre Dumas Lançamento: La Fontaine de Siloé Onde encomendar: B.P. 65, F-73.800, Montmélian - Cedex 03 - França


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