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JVC JAZZ
O saxofonista James Carter e o "bluesman" Olu Dara brilham em apresentação gratuita no Bryant Park, NY
Festival termina, e seu futuro é duvidoso
CARLOS CALADO
enviado especial a Nova York
O saxofonista James Carter e o
"bluesman" Olu Dara foram os
destaques do concerto ao ar livre,
na última sexta, em Nova York,
que fez parte da programação alternativa do JVC Jazz Festival.
Patrocinado pela gravadora
Atlantic, o show gratuito levou
cerca de mil pessoas ao simpático
Bryant Park, na 5ª avenida. Em vez
da sobriedade de teatros de concerto, como o Carnegie Hall, a
descontração do Bryant Park, incrustado entre os enormes arranha-céus, acaba resultando em
um cenário muito especial.
Sentada confortavelmente em
cadeiras de madeira espalhadas
sobre a grama, a platéia lia, comia
ou bebericava, enquanto esperava
o início do show. Preso no trânsito, Olu Dara entrou no palco com
mais de uma hora de atraso.
Sua trajetória musical é singular.
Conhecido nos meios jazzísticos
desde os anos 70, o trompetista só
lançou disco em 98. No entanto, o
CD "In the World" (Atlantic) está
longe de parecer com um disco de
jazz. Soa mais como o trabalho de
um eclético "bluesman", já que
Dara também canta, além de tocar
guitarra e gaita.
Com vocais que às vezes lembram John Lee Hooker, Dara mostrou em apenas quatro números
um universo musical bem amplo,
que vai do jazz ao afro-pop, passando pelo blues elétrico.
A canção "Harlem Country
Girl" é bem característica das misturas de Dara. A letra fala de uma
garota interiorana que mora no
bairro negro do Harlem, mas tanto a introdução como a coda final
ganham um tom "jazzy", com o
"cornet" (instrumento da família
do trompete) tocado por Dara.
Também com um disco recém-lançado pela Atlantic ("In
Carterian Fashion"), James Carter
entrou no palco com o mesmo trio
que o acompanhou no Brasil, durante o Free Jazz Festival de 96.
Tocando a composição própria
que intitula o novo álbum, Carter
mostrou que também aderiu à onda de redescoberta do órgão, evidente nos trabalhos mais recentes
de vários jazzistas.
Mesmo assim, o saxofonista não
deixa de imprimir sua marca. Cria
uma caótica introdução em tom
de "free jazz", antes de cair no
"groove" dançante do tema. O título da composição é perfeito: até
quando adere a um modismo,
Carter marca seu estilo.
Mas o número de maior impacto
do show foi "I Wonder Where the
Love Has Gone", aplaudido aos
gritos pela platéia. Fazendo uma
ponte entre o jazz tradicional e a
atonalidade do "free jazz", Carter
não deixou dúvidas: é um dos músicos de jazz mais criativos revelados nos anos 90.
A 26ª edição do JVC Festival terminou no sábado, deixando no ar
uma certa expectativa sobre a linha musical que o evento seguirá.
Com o ingresso do canal pago de
TV BET (espécie de MTV da música negra) na produção do evento,
há quem veja o risco de o tradicional festival de jazz abrir-se para
correntes mais comerciais.
Os produtores negam qualquer
mudança radical. Mas concertos
com metade da lotação da sala, como os que aconteceram no
Symphony Space, podem pesar no
balanço desta edição. Tomara que
o senso artístico vença o sentido
meramente comercial.
O jornalista
Carlos Calado viajou a convite da
JVC do Brasil e da United Airlines
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