São Paulo, segunda, 29 de junho de 1998

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PELO BRASIL
Atriz Florinda Bolkan estréia como diretora

PAULO MOTA
da Agência Folha, em Fortaleza

A atriz Florinda Bolkan, brasileira que fez uma carreira de sucesso no cinema italiano, está no Ceará, seu Estado natal, iniciando as filmagens de seu primeiro trabalho como diretora.
Sua proposta é fazer um filme que traga um olhar feminino sobre as características universais da cultura nordestina, os dilemas de sua gente, mostrando o lado mais urbano do Ceará e fugindo dos clichês do discurso regionalista.
O filme "Eu Não Conhecia Tururu" começou a ser rodado em Fortaleza (CE) na semana passada. A paisagem cearense estará presente também em locações feitas na praia de Canoa Quebrada e na serra de Guaramiranga.
O roteiro do filme foi concebido por Bolkan e se desenvolve a partir do reencontro de quatro irmãs na festa de casamento de uma delas, na casa de uma fazenda imaginária no sertão nordestino, na qual vive a matriarca da família.
Bolkan ressalta que, apesar da localização geográfica da casa, seu filme não será mais um falando sobre "a seca, a miséria e aquela imagem que se convencionou ter do Nordeste".
"Isso vai estar presente, mas procuraremos desenvolver nossa história relatando a experiência de vida das personagens, que são essencialmente cosmopolitas. O cearense é um migrante por natureza e sempre que volta traz alguma coisa de outras culturas. Vamos mostrar como é esse movimento", diz Bolkan.
Imagens do futurista aeroporto internacional de Fortaleza, recentemente inaugurado, e dos luxuosos edifícios da orla da cidade compõem o cenário do "Ceará urbano" retratado por Bolkan.
"Quero mostrar o universo urbano nordestino, que ainda é muito pouco explorado no cinema."
Apesar de não aceitar o rótulo de filme autobiográfico, Bolkan diz que "Eu Não Conhecia Tururu" reflete sua experiência de vida. Nascida em Uruburetama (107 km a oeste de Fortaleza), Bolkan morou por 30 anos na Itália.
No filme, duas das quarto irmãs moram na Itália e nos Estados Unidos. As outras permaneceram na terra natal. "É provável que cada uma delas tenha um pouco de minha alma", afirma.
A casa da fazenda mostrada no filme remete à residência dos avós de Bolkan, na qual costumava passar as férias na infância.
A arquitetura tem estilo grego e evoca um ambiente de tom confessional. É nela que as irmãs desenvolvem densos diálogos, dissecando suas existências.
Bolkan evita caracterizar seu filme como drama, comédia ou aventura. "Tem um pouco de tudo, mas é antes de tudo uma abordagem de questões universais como o feminino, a felicidade, o amor, a política e o poder", diz.
Orçado em R$ 2 milhões, o filme traz no elenco Maria Zilda Bethlem, Herson Capri, Ingra Liberato, Marcelo Serrado e a própria Bolkan. O elenco auxiliar tem 90 atores, a maioria recrutada no Instituto Dragão do Mar, uma escola de cinema mantida pelo governo cearense.
Os recursos para o filme foram captados com base na Lei Jereissati e na Lei do Audiovisual.
O lançamento está previsto para dezembro próximo, e o filme está sendo negociado para ser exibido também no mercado italiano, no qual Bolkan fez sucesso como atriz nas décadas de 60 e 70.
A direção de fotografia é assinada pelo argentino Félix Monti, que fez "A História Oficial" em seu país e, mais recentemente, "O Que é Isso, Companheiro?" e "O Quatrilho".



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