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ERUDITO
Às vésperas de sua 11ª vinda ao país, maestro defende território palestino e fala da paixão pela música vienense
Mehta volta ao Brasil com orquestra de Israel
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Há quatro anos o maestro indiano Zubin Mehta, 69, não vinha a
São Paulo com a Filarmônica de
Israel, da qual é, desde 1981, diretor musical vitalício.
Pois eles estão chegando. Serão
três concertos na Sala São Paulo,
nos dias 7, 8 e 9 de agosto, o primeiro em benefício do Centro de
Cultura Judaica (Beethoven, Maayani e Ravel), e os dois últimos na
temporada da Sociedade de Cultura Artística (Mozart e Mahler).
Eis sua entrevista à Folha, por
telefone, na última quarta-feira.
Folha - Esta será sua 11ª vinda a
São Paulo, e em muitas delas tivemos concertos no Ibirapuera. O sr.
lamenta não fazer agora o mesmo?
Zubin Mehta - Lamento que nesta turnê uma nova apresentação
no Ibirapuera não tenha sido programada. Alguns maestros resistem à idéia em razão da necessidade de amplificar o som. Mas é
um mal necessário.
Folha - Sua discografia é imensa.
O que gostaria ainda de gravar?
Mehta - Eu gostaria de gravar
uma versão integral do "Ring", de
Richard Wagner [ciclo de quatro
óperas de "O Anel do Nibelungo"]. Há dez ou 15 anos eu não me
julgava preparado para isso. Agora, estou preparado. Mas nenhuma gravadora se dispõe a bancar
o empreendimento.
Folha - Quanto a Wagner, o sr. foi
o primeiro a interpretá-lo em Israel. A experiência não foi muito
boa. Pretende recomeçá-la?
Mehta - Creio não ter chegado o
momento para tentar novamente.
Wagner é ainda um assunto delicado para boa parte dos israelenses. Há ainda muitos judeus com
números tatuados no braço [marca dos ex-internos em campos de
concentração]. Mesmo que um
israelense não tenha nada contra
a Alemanha ao andar de Mercedes-Benz, com a música não é a
mesma coisa, porque há a evocação do terror do Terceiro Reich.
Folha - Nos anos 60 o sr. era visto
como um pacifista, opondo-se à
Guerra do Vietnã. A paz é para o sr.
ainda um conceito atual?
Mehta - Eu falarei de paz e cultuarei a paz em todos os momentos que puder.
Folha - Como vê o diálogo pela
paz no Oriente Médio?
Mehta -Estamos em um momento favorável ao diálogo e à espera do que ocorrerá depois da
retirada israelense de Gaza. Como
muitos outros, eu gostaria de ver
o surgimento de um Estado Palestino. E gostaria que o governo israelense fixasse um prazo para
que isso acontecesse. Mas eu sou
apenas um músico.
Folha - Se a paz na região se solidificasse, o sr. poderia até reger em
Damasco, na Síria.
Mehta - Eu adoraria levar a Filarmônica de Israel a se apresentar
em Damasco. E também em Beirute ou em outras capitais do
mundo árabe. É um sonho meu.
Folha - Em dois de seus concertos
o sr. programou uma sinfonia de
Mozart e outra de Mahler. É a busca
de um contraste entre duas linguagens sinfônicas diferentes?
Mehta - Não há diferenças. São
duas imensas sonatas. Elas têm
também a mesma construção. O
primeiro movimento da "Sinfonia n.º 6" de Mahler é uma sonata,
tanto quanto o primeiro movimento da "Sinfonia n.º 41" de Mozart. São produtos de Viena.
Folha - Por que o sr. se sente tão
bem ao reger Mahler?
Mehta - Em verdade eu me sinto
muitíssimo bem ao reger qualquer música vienense, de Joseph
Haydn a Alban Berg.
Folha - Por que o sr. não tem gravado mais compositores contemporâneos, como o fez com Penderecki ou Luciano Berio?
Mehta - Quando gravadoras entraram em dificuldades econômicas, o repertório contemporâneo
deixou de ser gravado.
Folha - Novas tecnologias permitem fazer o download de composições em websites. Há uma nova
percepção a caminho do repertório
erudito?
Mehta - Isso não é relevante. O
importante é que as salas de concerto continuam cheias. Aqui em
Israel estamos com cinco récitas
programadas para a "Sinfonia n.º
9" de Beethoven. Os ingressos já
foram todos vendidos. As pessoas
precisam de música.
Folha - Uma última pergunta: caso o sr. não fosse Zubin Mehta, que
outro maestro gostaria de ter sido?
Mehta - Eu gostaria de ter sido
Erich Kleiber [(1890-1956), maestro vienense que emigrou com o
nazismo e se naturalizou argentino]. Sou grande admirador dele.
Filarmônica de Israel
Regência: Zubin Mehta
Quando: 7/8, às 20h; 8/8 e 9/8, às 21h
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes
s/n, tel. 0/xx/11/3337-5414)
Ingressos: para o dia 7, apenas pela Fun
by Net (tel. 0/xx/11/5087-3450); para os
dias 8 e 9, também no Cultura Artística (r.
Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/3258-3344)
Quanto: R$ 150 a R$ 500, ou R$ 10 para
estudantes com menos de 30 anos, meia
hora antes dos concertos dos dias 8 e 9
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