São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2005

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PATRIMÔNIO

Doação feita por príncipe saudita ao museu reflete intenção de aproximar comunidades minoritárias da França

Louvre recebe US$ 20 milhões para nova ala islâmica

JOHN TAGLIABUE
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS

Um príncipe saudita anunciou nesta semana um acordo para a mais vultosa doação privada já recebida pelo maior museu do mundo e contribuirá com US$ 20 milhões (cerca de R$ 48 milhões) para a construção de uma ala destinada a abrigar a vasta coleção de arte islâmica do Louvre -o governo francês se comprometeu a fornecer US$ 31 milhões (R$ 75 milhões), e o grupo petroleiro francês Total doará US$ 4,8 milhões (R$ 9,7 milhões).
Com considerável alarde, o príncipe Walid bin Talal assinou o acordo de doação na companhia do ministro da Cultura da França, Renaud Donnedieu de Vabres, e do presidente do museu, Henri Loyrette.
A doação reflete a complexa relação entre a França e o mundo islâmico e a crença cada vez mais forte de que, depois do 11 de Setembro, intensificar a apreciação da arte islâmica pode ajudar a superar o distanciamento cultural.
Sem mencionar os recentes atentados terroristas contra Londres ou a Guerra do Iraque, o príncipe Walid declarou que "as relações entre a Europa e o mundo islâmico estão atravessando um período turbulento".
"[A nova ala] ajudará a promover a compreensão quanto ao verdadeiro significado do islã, uma religião humanista que promove o perdão e defende a aceitação de outras culturas", disse.
O projeto da nova ala cogita cobrir boa parte do Cour Visconti, um pátio neoclássico do museu, com um teto contemporâneo, em forma de vela, feito de pequenos discos de vidro. Funcionários do museu estimaram o custo total da ala, concebida pelos arquitetos Mario Bellini e Rudy Ricciotti, em US$ 67 milhões (cerca de R$ 164 milhões) e previram que será inaugurada em 2009.
Aceitando a doação de US$ 20 milhões oferecida pelo príncipe, Donnedieu de Vabres disse que o Louvre não é mais apenas um museu. "Tornou-se agora um instrumento essencial para o diálogo entre culturas e a preservação de suas diversidades", afirmou.
"Em um mundo no qual a violência se expressa individual e coletivamente, onde o ódio irrompe e impõe sua expressão na forma de terror, o senhor ousa firmar a nossa convicção de que o diálogo entre povos e culturas, a riqueza dos patrimônios, o valor da convivência são as mais inteligentes respostas aos conflitos."
Em comunicado divulgado depois do encontro, Chirac afirmou que tinha "especial apreço" pelo projeto de arte islâmica porque ele daria "à excepcional coleção do Louvre o espaço de exibição que ela merece".
Chirac propôs a criação de um novo departamento islâmico no Louvre, três anos atrás, para sublinhar "a contribuição essencial das civilizações islâmicas à nossa cultura". A idéia de que promover a apreciação da arte islâmica pode servir como ponte cultural para atingir as comunidades minoritárias da França, muitas das quais são muçulmanas, vem ganhando forte influência nos círculos culturais franceses.
O príncipe Walid é menos conhecido na França como benfeitor das artes do que como astuto homem de negócios. Ele tem participação de 17% na EuroDisney, a empresa que opera a Disneylândia de Paris, e controla, por meio da Kingdom Holding, vários luxuosos hotéis da cidade.

Nova ala
O teto da nova ala do Louvre cobrirá a maior parte do pátio, mas não todo o espaço, e permitirá que os visitantes circulem do museu para o espaço externo. Do lado de dentro, a nova galeria terá dois pavimentos, um deles subterrâneo, para abrigar os objetos altamente sensíveis à luz.
As novas salas terão cerca de 3.400 m2 de espaço para exposição, mais ou menos quatro vezes o espaço atual.


Tradução de Paulo Migliacci

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