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PATRIMÔNIO
Doação feita por príncipe saudita ao museu reflete intenção de aproximar comunidades minoritárias da França
Louvre recebe US$ 20 milhões para nova ala islâmica
JOHN TAGLIABUE
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS
Um príncipe saudita anunciou
nesta semana um acordo para a
mais vultosa doação privada já recebida pelo maior museu do
mundo e contribuirá com US$ 20
milhões (cerca de R$ 48 milhões)
para a construção de uma ala destinada a abrigar a vasta coleção de
arte islâmica do Louvre -o governo francês se comprometeu a
fornecer US$ 31 milhões (R$ 75
milhões), e o grupo petroleiro
francês Total doará US$ 4,8 milhões (R$ 9,7 milhões).
Com considerável alarde, o
príncipe Walid bin Talal assinou
o acordo de doação na companhia do ministro da Cultura da
França, Renaud Donnedieu de
Vabres, e do presidente do museu, Henri Loyrette.
A doação reflete a complexa relação entre a França e o mundo islâmico e a crença cada vez mais
forte de que, depois do 11 de Setembro, intensificar a apreciação
da arte islâmica pode ajudar a superar o distanciamento cultural.
Sem mencionar os recentes
atentados terroristas contra Londres ou a Guerra do Iraque, o
príncipe Walid declarou que "as
relações entre a Europa e o mundo islâmico estão atravessando
um período turbulento".
"[A nova ala] ajudará a promover a compreensão quanto ao verdadeiro significado do islã, uma
religião humanista que promove
o perdão e defende a aceitação de
outras culturas", disse.
O projeto da nova ala cogita cobrir boa parte do Cour Visconti,
um pátio neoclássico do museu,
com um teto contemporâneo, em
forma de vela, feito de pequenos
discos de vidro. Funcionários do
museu estimaram o custo total da
ala, concebida pelos arquitetos
Mario Bellini e Rudy Ricciotti, em
US$ 67 milhões (cerca de R$ 164
milhões) e previram que será
inaugurada em 2009.
Aceitando a doação de US$ 20
milhões oferecida pelo príncipe,
Donnedieu de Vabres disse que o
Louvre não é mais apenas um
museu. "Tornou-se agora um instrumento essencial para o diálogo
entre culturas e a preservação de
suas diversidades", afirmou.
"Em um mundo no qual a violência se expressa individual e coletivamente, onde o ódio irrompe
e impõe sua expressão na forma
de terror, o senhor ousa firmar a
nossa convicção de que o diálogo
entre povos e culturas, a riqueza
dos patrimônios, o valor da convivência são as mais inteligentes
respostas aos conflitos."
Em comunicado divulgado depois do encontro, Chirac afirmou
que tinha "especial apreço" pelo
projeto de arte islâmica porque
ele daria "à excepcional coleção
do Louvre o espaço de exibição
que ela merece".
Chirac propôs a criação de um
novo departamento islâmico no
Louvre, três anos atrás, para sublinhar "a contribuição essencial
das civilizações islâmicas à nossa
cultura". A idéia de que promover
a apreciação da arte islâmica pode
servir como ponte cultural para
atingir as comunidades minoritárias da França, muitas das quais
são muçulmanas, vem ganhando
forte influência nos círculos culturais franceses.
O príncipe Walid é menos conhecido na França como benfeitor das artes do que como astuto
homem de negócios. Ele tem participação de 17% na EuroDisney,
a empresa que opera a Disneylândia de Paris, e controla, por meio
da Kingdom Holding, vários luxuosos hotéis da cidade.
Nova ala
O teto da nova ala do Louvre cobrirá a maior parte do pátio, mas
não todo o espaço, e permitirá
que os visitantes circulem do museu para o espaço externo. Do lado de dentro, a nova galeria terá
dois pavimentos, um deles subterrâneo, para abrigar os objetos
altamente sensíveis à luz.
As novas salas terão cerca de
3.400 m2 de espaço para exposição, mais ou menos quatro vezes
o espaço atual.
Tradução de Paulo Migliacci
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