São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estréia hoje "Sin City", filme baseado nos celebrados quadrinhos de Frank Miller

Crimes e pecados

JAMES MOTTRAM
DO "INDEPENDENT"

Benicio del Toro entra na sala dando a impressão de que acaba de vir de uma noite passada em Basin City. A fictícia metrópole que está ao centro das histórias em quadrinhos "Sin City", de Frank Miller, agora transpostas à telona pelo próprio Miller e por Robert Rodriguez -que estréia hoje no Brasil-, parece o esconderijo perfeito para Del Toro, com sua aparência detonada. Ele segura um cigarro apagado entre dois dedos. Seu ar é de quem precisa desesperadamente dormir.
Ganhador de um Oscar em 2001 por sua atuação como um policial em "Traffic", de Steven Soderbergh, Del Toro não tem o comportamento que se poderia esperar de um membro da Academia. Ele estudou com Stella Adler, a guru da atuação que foi a mentora de Marlon Brando. Já trabalhou com Abel Ferrara (em "Os Chefões") e William Friedkin ("Caçado"), dois dos maiores excêntricos do cinema americano.
Além disso, é amigo de Mickey Rourke, um de seus colegas de elenco em "Sin City". Os dois se conhecem desde que Del Toro chegou a Los Angeles, no final dos anos 80. "Mickey tem um bom coração. Ele é incompreendido, é rude, é um homem das cavernas."
Como Del Toro acha que Hollywood o enxerga? "Sou um rapaz bonitinho!", diz ele, enquanto um sorriso passeia por seus lábios. "Tenho vontade de fazer alguma coisa totalmente diferente. Por exemplo, ser o herói romântico."
Mas o fato é que ele não é nenhum Cary Grant. O mundo de pesadelo de "Sin City" é muito mais próximo dele. O filme, um tríptico de histórias de cinema noir, é sem dúvida alguma a mais fiel adaptação de uma HQ já criada no cinema. "Não é cinema que imita a vida real", diz Del Toro. "É cinema imitando cinema. Ou cinema imitando quadrinhos. Geralmente, quando se faz cinema, menos é mais para o ator. Com este filme, mais é mais."
Aparecendo no segmento "The Big Fat Kill", Del Toro faz Jackie Boy, um tira que já foi honesto, mas que acabou corrompido após anos de trabalho. Ele maltrata regularmente sua namorada, uma garçonete (Brittany Murphy), mas encontra antagonistas mais fortes do que ele, como o detetive particular Dwight (Clive Owen) e um grupo de prostitutas duronas (lideradas por Rosario Dawson). "Jackie Boy é um sujeito que foi herói, mas que se perdeu no meio da glória", diz Del Toro. "É um louco egoísta que acha que tem licença para matar. É uma espécie de vilão perfeito."


Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Patrimônio: Louvre recebe US$ 20 milhões para nova ala islâmica
Próximo Texto: Crítica: Filme viola percepção da HQ
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.