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Estréia hoje "Sin City", filme baseado nos celebrados quadrinhos de Frank Miller
Crimes e pecados
JAMES MOTTRAM
DO "INDEPENDENT"
Benicio del Toro entra na sala
dando a impressão de que acaba
de vir de uma noite passada em
Basin City. A fictícia metrópole
que está ao centro das histórias
em quadrinhos "Sin City", de
Frank Miller, agora transpostas à
telona pelo próprio Miller e por
Robert Rodriguez -que estréia
hoje no Brasil-, parece o esconderijo perfeito para Del Toro, com
sua aparência detonada. Ele segura um cigarro apagado entre dois
dedos. Seu ar é de quem precisa
desesperadamente dormir.
Ganhador de um Oscar em 2001
por sua atuação como um policial
em "Traffic", de Steven Soderbergh, Del Toro não tem o comportamento que se poderia esperar de um membro da Academia.
Ele estudou com Stella Adler, a
guru da atuação que foi a mentora
de Marlon Brando. Já trabalhou
com Abel Ferrara (em "Os Chefões") e William Friedkin ("Caçado"), dois dos maiores excêntricos do cinema americano.
Além disso, é amigo de Mickey
Rourke, um de seus colegas de
elenco em "Sin City". Os dois se
conhecem desde que Del Toro
chegou a Los Angeles, no final dos
anos 80. "Mickey tem um bom
coração. Ele é incompreendido, é
rude, é um homem das cavernas."
Como Del Toro acha que Hollywood o enxerga? "Sou um rapaz
bonitinho!", diz ele, enquanto um
sorriso passeia por seus lábios.
"Tenho vontade de fazer alguma
coisa totalmente diferente. Por
exemplo, ser o herói romântico."
Mas o fato é que ele não é nenhum Cary Grant. O mundo de
pesadelo de "Sin City" é muito
mais próximo dele. O filme, um
tríptico de histórias de cinema
noir, é sem dúvida alguma a mais
fiel adaptação de uma HQ já criada no cinema. "Não é cinema que
imita a vida real", diz Del Toro. "É
cinema imitando cinema. Ou cinema imitando quadrinhos. Geralmente, quando se faz cinema,
menos é mais para o ator. Com este filme, mais é mais."
Aparecendo no segmento "The
Big Fat Kill", Del Toro faz Jackie
Boy, um tira que já foi honesto,
mas que acabou corrompido após
anos de trabalho. Ele maltrata regularmente sua namorada, uma
garçonete (Brittany Murphy),
mas encontra antagonistas mais
fortes do que ele, como o detetive
particular Dwight (Clive Owen) e
um grupo de prostitutas duronas
(lideradas por Rosario Dawson).
"Jackie Boy é um sujeito que foi
herói, mas que se perdeu no meio
da glória", diz Del Toro. "É um
louco egoísta que acha que tem licença para matar. É uma espécie
de vilão perfeito."
Tradução de Clara Allain
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