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CRÍTICA
Artista enfrenta seus medos em "3.1"
DA REPORTAGEM LOCAL
A letra de "Pacote Pacato",
rap-samba-jazz de Tom Zé e
Jair Oliveira, diz assim: "Vivo sem
medo/ morro de medo/ corro do
medo/ bebo do medo/ como do
medo/ pois tenho medo/ eis o segredo". Parece ser a voz arguta de
Tom Zé decifrando seu novo parceiro. Mas foi Jair quem compôs
tais versos. Eis a questão.
No mais denso trabalho artístico de sua carreira, Jair pela primeira vez reconhece em público,
visita e pesquisa seus "medos".
Obedece ao tal crítico que reclamou das canções românticas. Elas
perdem espaço em "3.1", mas rendem duas das grandes canções do
disco, a "prece calada" "Sorriso
Insistente" e a bossa marítima
"Sem Sol, sem Cobertor". Do medo enfrentado de parecer romântico demais, surgem canções tão
compactas, enfrentado nelas até o
medo de bem interpretar.
Não importa que para se reconhecer negro (embora não só negro) tenha de lançar mão ainda de
algum preconceito (nas contradições de "Todo Mundo Famoso")
ou recorrer ao afro-samba branco
de João Bosco. "Contigo Sempre"
e "Anjo Guardião" são de todo
modo negras, muito negras. Como é, também, a rhythm'n'embolada "Arrepios", com participação pernambucana da dupla Caju
& Castanha.
Mas mais ainda é "A Ladeira Leva", que tem o conjunto música-letra mais ágil e habilidoso do CD
-e é concebida por ele, Jair Oliveira, sozinho.
"Eu pulo, escalo, eu corro atrás/
a vida inteira é na ladeira/ subindo e descendo, sabe/ a gente esbarra nas besteiras/ escuta, esquece, deixa pra trás", sacoleja.
Desistente da ilusão de planície
dos CDs anteriores, "3.1" faz o
elogio da dificuldade gigantesca
que é viver, ainda apenas indicado pela seta de "A Ladeira Leva".
Alinhado no ponto de largada, aí
vem o brasileiro ex-Jairzinho subindo a ladeira.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
3.1
Artista: Jair Oliveira
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 28, em média
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