São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2008

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Crítica/"Castelar e Nelson Dantas..."

Documentário faz retrato afetivo de cinema mineiro

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Um trecho de "Bang-Bang" (1970), de Andrea Tonacci ("Serras da Desordem"), abre "Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais". Imagens de dezenas de outros filmes realizados em Minas Gerais e por cineastas mineiros em outros lugares desfilam em seguida. É de uma cultura cinematográfica, portanto, que trata o documentário de Carlos Alberto Prates Correia -mineiro de Montes Claros, fundador do Centro Mineiro de Cinema Experimental, em Belo Horizonte.
Essa reconstituição afetiva da trajetória empreendida por um grupo de cineastas e críticos -que inclui, além de Tonacci e Prates Correia (o Castelar do título), Joaquim Pedro de Andrade, Alberto Graça e Schubert Magalhães, entre outros- acompanha sua produção a partir da década de 60 e, sobretudo, durante o regime militar de 1964-1985.
Filmes emblemáticos daqueles anos, como "O Padre e a Moça" (1965) e "Os Inconfidentes" (1971), de Joaquim Pedro, "Perdida" (1975) e "Cabaré Mineiro" (1979), de Correia, e "Memórias do Medo" (1979), de Graça, revivem em montagem que alterna seqüências-chave com narração em off e textos interpretados por atores.
Prêmio de melhor filme no Festival de Gramado de 2007, "Castelar e Nelson Dantas..." se impõe como documentário de caráter poético realizado em homenagem a amigos e parceiros de trabalho, e não facilita a vida de quem não tenha coordenadas básicas sobre os personagens, mas está longe de se resumir a uma abordagem de interesse localizado sobre as relações entre Minas e o cinema.
A idéia de um certo cinema para o Brasil, que jamais sai da pauta, está no pano de fundo das aventuras do grupo, e talvez não houvesse indicativo melhor para isso do que a extraordinária presença, nesse contexto intelectual-afetivo, de Humberto Mauro -o mais ilustre dos mineiros no cinema- em "O Canto da Saudade" (1950).


CASTELAR E NELSON DANTAS NO PAÍS DOS GENERAIS
Produção: Brasil, 2006
Direção: Carlos Alberto Correia
Onde: a partir de hoje no Bombril
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: bom




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