São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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CRÍTICA LATINO

Telefônica Sonidos erra ao colocar brasileiros como coadjuvantes

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

"A que horas mesmo começa o show da Marisa Monte?"
Noite gelada de sexta-feira, mais fria ainda pelo cenário: o descampado Jóquei Clube de São Paulo.
A segunda edição do Telefônica Sonidos chegava à terceira noite. E, por onde quer que se andasse, só o nome dela ecoava: Marisa Monte.
Sumida dos palcos da cidade desde que terminou a turnê "Universo Particular", há quatro anos, a cantora era a atração que motivara boa parte dos cerca de 8.000 presentes (segundo o Corpo de Bombeiros) a desembolsar até R$ 200 pela noitada.
Marisa dividiria a cena com a cantora mexicana Julieta Venegas. Um dos momentos esperados era o dueto "Ilusión", registrado no "MTV Unplugged" (2008) da segunda.
Venegas entrou primeiro. Cantou uma, duas, três... Sete músicas até chamar Marisa. Chegara o momento.
O mesmo vestido comprido, a mesma flor no cabelo preto, a mesma voz. O público uivava, satisfeito, de emoção e saudade.
Começaram com "Ilusión" em performance delicada, elevando bem o nível musical do popzinho que Venegas tocara até ali.
Emendaram "Eu Não Sou da Sua Rua" (Branco Mello/Arnaldo Antunes), que Marisa lançara em "Mais" (1991). E, por fim, "Soy Loco por Ti, America" (Gilberto Gil/ Capinan), que Caetano Veloso lançou em 1968 para chorar a morte de Che Guevara.
A ideia é ótima, mas nenhuma delas fez direito a lição de casa: mesmo com a letra num teleprompter aos pés, tanto uma quanto outra escorregou nas palavras.
O mais traumático veio na sequência: Marisa se despediu e saiu do palco. Acabava ali "o show de Marisa Monte". Três músicas.
Com a certeza de que ela não voltaria para o bis, metade do público vazou.

CURADORIA
A conclusão é que o público pagou para ver as participações especiais.
Aplaudiu-se mais a participação de Tulipa Ruiz do que todo o resto do espetáculo de seu anfitrião, o cubano-canadense Alex Cuba. E mais Carlinhos Brown do que o grupo Juan Formell y Los Van Van. E a brasileira Marina de La Riva constrangeu menos o público que o cafonão Pitingo, da Espanha.
Boa parte do problema vem da esquizofrênica curadoria do festival. Acharam que não haveria problema algum em juntar, sob um mesmo conceito, a música instrumental-cabeça do pianista cubano Osmar Sosa e os sertanejos Victor & Leo.
Nada contra misturas, mas, no caso do Sonidos, o mau cheiro de operação de marketing extrapolou.
Veja que curioso: tanto Victor & Leo quanto a banda Jota Quest, dois dos maiores óvnis do festival, são artistas da Sony Music -empresa ligada à Day 1 Entertainment, produtora do evento.
Conceito para quê, não é mesmo?

TELEFÔNICA SONIDOS
AVALIAÇÃO ruim


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