São Paulo, Quarta-feira, 29 de Setembro de 1999
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FREE JAZZ 99 ORBITAL

Duo inglês quer a fama de "um bom filme B"
Divulgação
Paul Hartnoll, do duo inglês Orbital, durante show sábado, no Homelands Festival, em Dublin



LUCIANO VIANNA
especial para a Folha,
em Dublin (Irlanda)


Com cinco discos lançados nos últimos dez anos, o Orbital é um dos mais respeitados nomes do techno mundial. Formado pelos irmãos Paul e Phil Hartnoll, o grupo é a principal atração da noite dedicada à música eletrônica do Free Jazz Festival e terá seu último álbum, "The Middle of Nowhere", lançado no Brasil em outubro, pela Warner.
Criado em 1989, no auge do acid house inglês, o Orbital logo se transformaria em um dos principais grupos da cena, ao lançar seu primeiro single, "Chime", hino do techno inglês da época.
Em 1994, foram a principal atração do Glastonbury Festival, na Inglaterra. Esse show foi considerado um marco na música eletrônica, provando que não era preciso ter uma banda no palco para levar à loucura mais de 30 mil pessoas num grande festival.
No último sábado, o Orbital se apresentou no Homelands Festival, em Dublin, na Irlanda.
Antes do show do grupo, a Folha conversou com Paul e Phil Hartnoll sobre a carreira do grupo e as apresentações no Brasil, que acontecem nos dias 15 e 16 de outubro, no Museu de Arte Moderna do Rio e no Jockey Club de São Paulo, respectivamente.

Folha - Vocês vão tocar no Brasil num festival de jazz. O que acham disso?
Phil Hartnoll -
Isso é muito bom. Eu acho que a música eletrônica é bastante similar às improvisações que você ouve no jazz, especialmente quando você pega coisas mais obscuras como o drum'n'bass e o jungle. Os ritmos e as idéias são totalmente jazz.

Folha - O show do Orbital que Rio e São Paulo vão ver é aberto a improvisações ao vivo?
Paul Hartnoll -
A gente leva as bases pré-gravadas e junta com os nossos samplers em cima do palco. O show pode variar de 50 a 90 minutos. Então, obviamente, estamos sempre tendo que fazer improvisações durante a apresentação.

Phil - A improvisação vem do modo como remixamos as faixas ao vivo. Além disso, também temos as imagens, que, ao vivo, integram as faixas, dando uma nova dimensão para a nossa música. É uma improvisação de um modo diferente.

Folha - Quanto a sua música ao vivo depende dessa interação entre imagem e som?
Paul -
O show do Orbital tem um grande fator visual. Não temos uma pessoa que fique cantando na frente do palco. Somos apenas dois caras atrás de um monte de equipamentos.

Phil - Fomos desenvolvendo isso ao longo dos anos e achamos essencial, principalmente quando o espetáculo é num lugar grande.

Folha - O espetáculo no Brasil será o mesmo que vocês apresentarão esta noite (sábado passado, em Dublin)?
Paul -
Sim, mas no Brasil será ainda maior. Vamos levar ainda mais luzes e telões do que no Homelands. Basicamente, dividimos a apresentação entre músicas do novo álbum e músicas antigas.

Folha - Qual é a recepção que vocês esperam do público brasileiro?
Phil -
Não tenho a mínima idéia, mas estou muito animado com a idéia de poder fazer esses dois shows no Brasil.

Folha - Vocês conhecem algo de música brasileira?
Paul -
Apenas alguma coisa de samba. Aqui na Europa existem muitos artistas que fazem música inspirados no samba brasileiro. Eu adoraria descobrir mais, mas não vamos poder passar muito tempo no Brasil para pesquisar.

Folha -Vocês pretendem fazer algum turismo no Brasil?
Paul -
Apesar de que vamos passar muito pouco tempo no Brasil, teremos um dia livre e é claro que vamos fazer compras e procurar conhecer melhor o país.

Folha - Grupos como Orbital, Chemical Brothers e The Orb mudaram a concepção das pessoas sobre um show de música eletrônica, mostrando que ele pode ser tão vibrante ao vivo quanto um show de rock. Esse tipo de espetáculo é uma coisa normal na Europa, mas no Brasil está apenas começando e o público tende a estranhar dois homens, teclados e samplers no palco. Como vocês se sentem nessa situação?
Phil -
Nós não podemos ser comparados a uma banda. É um tipo de show bem diferente, outro universo. É o mesmo que comparar uma orquestra com um grupo de rock. Você não vai assistir a uma banda com um monte de músicos no palco, apenas dois caras improvisando com um monte de equipamentos eletrônicos.

Folha - A música "The Saint" (tema do filme "O Santo", com Val Kilmer) foi o maior sucesso do Orbital no Brasil. Vocês estão trabalhando em alguma trilha sonora no momento?
Phill -
Não estamos com nada fechado, mas deveremos fazer alguma coisa para o filme "The Beach" ("A Praia", com Leonardo DiCaprio).

Folha - Vocês se consideram um grupo de música pop?
Paul -
Acho que faz sentido se você pensar que, hoje em dia, estamos mais populares do que antigamente. Mas não fazemos nenhum trabalho de promoção como um grupo pop faria normalmente.

Phill - Eu não acho que estejamos no mainstream. São dez anos, cinco álbuns e, por causa desse tempo de carreira, a gente conquistou um grande número de admiradores, o que acaba fazendo com que a gente toque em lugares como o Brasil.

Paul - Na verdade, queremos ser lembrados como um bom filme "B", um filme "cult" clássico.


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