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TEATRO
Diretor mineiro rompe "cânones" da Broadway na montagem da peça de Chico Buarque que estréia hoje no TBC
Villela quer antimusical em "Ópera do Malandro"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Gabriel Villela e equipe querem
errar com causa no musical "A
Ópera do Malandro". "Não aceito
o certo, quero o errado", diz o diretor.
Villela, 41, define o seu novo
projeto como uma "provocação
estética" ao musical norte-americano, um "desbunde" no cânone
da Broadway, a "fôrma" da qual
não escapam as produções que
aportaram em São Paulo recentemente -caso de "Rent".
"Não se trata de uma oposição à
vinda de musicais da Broadway,
mas seria desagradável montar
"Jesus Christ Superstar" no TBC, o
nosso epicentro histórico." No limite, a montagem do musical do
compositor Chico Buarque se
pretende "antimusical".
A interpretação "suja", o canto
"desafinado", o improviso, o uso
imoderado dos recursos de cenografia, figurino e iluminação
-que, na concepção barroca do
encenador mineiro, não constitui
novidade-, enfim, tudo converge para um "teatro do equívoco",
na definição de Villela.
"É um salvo-conduto para o
elenco. A Globo dita o padrão de
interpretação hoje no país, então,
por favor, que errem a Globo."
O objetivo, diz, é destruir para
construir. Quer preencher o hiato
que separa as novas gerações de
autores como Arthur Azevedo
(da burleta "O Mambembe", já
encenada pelo próprio Villela), da
irreverência de uma Dercy Gonçalves e de projetos como o do
grupo Arena nos anos 60 ("Conta
Zumbi", "Conta Tiradentes").
Esse teatro do equívoco, definição que não tem fundamento teórico e surgiu à guisa dos quatro
meses de ensaios, é também uma
maneira de "gerar uma dialética
brechtiana".
"A Ópera do Malandro" é baseada na "Ópera dos Três Vinténs" (1928), de Bertolt Brecht e
Kurt Weill, dupla que, por sua
vez, foi inspirada pela "Ópera dos
Mendigos" (1728), de John Gay.
Em comum, expõem a máfia, a
bandidagem, o conluio que monitora explorados e exploradores.
Na primeira criação musical
que assinaria sozinho, depois de
"Calabar" (1973, parceria com
Ruy Guerra) e "Gota D"Água"
(1975, com Paulo Pontes), Chico
Buarque transpõe a história para
o subúrbio carioca da Lapa, nos
anos 40 (leia texto ao lado).
Villela assistiu à primeira montagem de "A Ópera do Malandro"
há 22 anos, dirigida por Luiz Antonio Martinez Corrêa, irmão de
Zé Celso.
Segundo o encenador, Martinez
Corrêa já acenava com um jeito
brasileiro de fazer teatro musical.
"Para onde vai a prosódia brasileira com o advento dos microfones?", pergunta o diretor. Ele desdenha do "aparelho" que "virou
moda" e diz que os atores têm de
cantar "no gogó".
A direção musical é da preparadora vocal Babaya, do grupo Ponto de Partida (Barbacena, MG),
também responsável pela Escola
do Canto, em Belo Horizonte.
Babaya vem de parcerias com
Villela desde 92 ("Romeu e Julieta", "A Rua da Amargura"), além
de trabalharem em shows de Milton Nascimento e Maria Bethânia.
"Os atores cantam lindamente,
mas o desafio é justamente desafinar, variando os timbres do operístico ao popular, ora mascando
chiclete, mas conscientes do que
queremos comunicar no campo
das idéias", afirma Babaya, 49.
O cenógrafo J.C. Serroni e equipe superpõem três planos de ação
em um espaço que lembra um
"saloon", com suas estruturas em
madeirite. Há caixotes, garrafas
de uísque falsificado e um amontoado de objetos que lembram
um almoxarifado.
"É o caos em sua absoluta coesão", como quer Villela.
Peça: Ópera do Malandro
Autor: Chico Buarque
Direção: Gabriel Villela
Com: Companhia Estável de Repertório
Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a sáb.,
às 21h; dom., às 20h. Até 17/12
Onde: Teatro Brasileiro de Comédia -sala TBC (r. Major Diogo, 315, Bela Vista,
SP, tel. 0/xx/11/3115-4622)
Quanto: R$ 10 a R$ 25
Patrocinador: Schahin
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