São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

3º FESTIVAL DO RIO BR

"Italiano para Iniciantes" usa conceito do Dogma 95 à exaustão

RUY GARDNIER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 98 , chegavam aos festivais brasileiros os primeiros filmes do Dogma 95, manifesto estético-publicitário redigido por Lars von Trier que pregava um cinema barato em dez mandamentos (filmar em luz natural, não-interferência nas locações, ausência de efeitos de pós-produção).
Os dois primeiros filmes realizados sob os auspícios do Dogma, "Festa de Família" e "Os Idiotas", fizeram sensação no mundo inteiro e criaram verdadeiros choques na platéia. Três anos depois, "Italiano para Iniciantes" não acrescenta nada de novo ou relevante.
Décimo segundo filme a exibir na tela o certificado Dogma 2000 (um "upgrade" semelhante ao dos programas de Bill Gates), não apresenta a veemência ou o frescor de linguagem dos primeiros filmes. Trata-se de uma simples e desajeitada comédia romântica que tem como único diferencial ser tremida, filmada com a câmera na mão em vídeo digital e atender aos princípios do movimento.
"Italiano" começa atribulado e confrontativo, com discussões e relações de poder. Parece que assistiremos a um novo "Festa de Família". Mas aos poucos as relações se atenuam e o filme torna-se mais ameno. Como numa comédia de Meg Ryan e Tom Hanks, três casais vão se formando e um novo círculo de amigos nasce.
Mas o problema não é simplesmente o de ser uma comédia romântica. Está acima de tudo na aceitação de uma forma narrativa que não convém ao tema tratado.
A estética presente nos dois primeiros filmes do Dogma é aqui repetida à exaustão, sem que o espectador compreenda muito bem o porquê de assistir a um filme água-com-açúcar em que a câmera não fica nunca parada. Sabe-se lá o que viu o júri de Berlim para dar ao filme o Urso de Prata.
Algo importante a ser registrado, entretanto: o poder de definição da câmera digital, que deixou muita gente acreditando que assistia a um filme rodado em película. O Dogma pode ir mal, mas a revolução digital continua...


Ruy Gardnier é jornalista e editor da revista eletrônica "Contracampo"
Italiano para Iniciantes
Italiensk for Begyndere
 
Direção: Lone Scherfig
Produção: Dinamarca, 2000
Com: Anders Berthelsen, Lars Kaalund
Quando: hoje, às 17h, no Estação Barra
Point; e amanhã, às 18h30 e às 23h, no Espaço Unibanco, no Rio


Texto Anterior: Cinema - "eXistenZ": Cronenberg esmiúça mistérios do organismo
Próximo Texto: Literatura: História apaga rosto de primeira presa política do Brasil
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.