São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2005

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LITERATURA

Em solenidade, economista faz discurso severo contra o capitalismo

Belluzzo recebe Prêmio Juca Pato

DA REPORTAGEM LOCAL

Foi sem poupar palavras duras sobre os rumos do capitalismo que o economista e escritor Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, 63, recebeu, na noite de anteontem, o troféu Juca Pato - Intelectual do Ano de 2004. O prêmio é promovido pela União Brasileira de Escritores e tem patrocínio da Folha. A solenidade ocorreu no auditório da Academia Paulista de Letras, em São Paulo.
Belluzzo concorreu ao prêmio com seu livro "Ensaios sobre o Capitalismo no Século 20" (editora Unesp), publicado em 2004. No discurso que proferiu ao recebê-lo, o economista perpassou alguns dos assuntos de que trata no livro e, após uma leitura política e econômica da segunda metade do século passado, disse que "a avareza é um vício, a usura, uma contravenção, e o amor ao dinheiro, algo detestável".
"A crise brasileira não é fruto da banalidade do mal, mas dos males da banalidade", declarou o economista. Antes, já fizera críticas a Bush, que, segundo ele, faz "prevalecer uma lógica da cacetada", e ao Fórum Econômico de Davos, "onde os poderosos do mundo imaginam dar conta da vida dos homens". "Hoje, tudo o que vemos são cadáveres na enxurrada da globalização", completou.
Belluzzo é professor titular do Departamento de Economia e Planejamento Econômico da Unicamp e foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 1985 e 1987. Ele recebeu o troféu das mãos do escritor e diplomata Alberto da Costa e Silva, vencedor do prêmio em 2003, de quem se declarou herdeiro intelectual. Belluzzo também agradeceu pela "leitura muito generosa" de seu livro que o diplomata fez logo antes, na cerimônia.
Em seu discurso, Costa e Silva ressaltou a pessoalidade, o coloquialismo e o humor da obra de Belluzzo. "O homem é o verdadeiro tema de seus ensaios, e não o homo economicus", disse.
Também estavam presentes na cerimônia o presidente da UBE, Levi Bucalem Ferrari, e o presidente da APL, Ives Gandra Martins. Na platéia, havia personalidades como a escritora Lygia Fagundes Telles e o crítico literário Fábio Lucas, ganhador do prêmio em 1991. Ferrari aproveitou a ocasião para homenagear Antonio Rezk, que era vice-presidente da UBE quando morreu, em agosto deste ano. Segundo Ferrari, Rezk foi o principal articulador da candidatura de Belluzzo ao Juca Pato.
O Prêmio Intelectual do Ano foi criado em 1962 por Marcos Rey, fundador da UBE. O troféu é uma estatueta que reproduz a figura de Juca da Silva Pato, personagem criado pelo jornalista e chargista Belmonte. Entregue anualmente, pode ser disputado por autores de livro publicado no ano anterior, em qualquer gênero ou modalidade, inscritos através de uma lista indicada por 30 sócios da UBE. A votação é nacional.


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