São Paulo, Quarta-feira, 29 de Dezembro de 1999


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DISCO/CRÍTICA
Prince ainda está sufocado em seu ego

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

"Este não é, definitivamente, um disco experimental", é o eufemismo que o multimúsico Prince vem usando para definir seu novo álbum (sim, mais um), "Rave un2 the Joy Fantastic".
O subtexto é: aquele cara que em 1982 queria dançar como se fosse 1999 (era o que dizia na faixa-furacão "1999") e, agora, quando finalmente é 1999, resolveu se render aos ditames do mercadão.
Primeiro, desistiu da jornada independente dos anos recentes (em que chegou até a lançar discos pela Internet, sem intermediação das gravadoras) e está de contrato novo em folha com a Arista (no Brasil, BMG).
Aí, não só abandonou qualquer experimentalismo (o que por si talvez até fosse uma sorte), como também resolveu fazer tudo do jeitinho como todo mundo anda fazendo, tal qual soldadinho de chumbo.
Para isso chamou uma galeria "ilustre" de convidados, encabeçada por Gwen Stefani, da sub-banda No Doubt, em "So Far, So Pleased", e por Sheryl Crow, em "Baby Knows". Parecem cantadas (no público e nas moças, nada brilhantes afinal), mais que músicas -saudades de quando ele cantava com Chaka Khan, com Mavis Staples...
Como compositor, a coisa também não vai nada bem -é só citar que a faixa mais inspirada do disco é o rock "Everyday Is a Winding Road", uma releitura de... Sheryl Crow.
As do próprio reizinho (que agora, em crise de personalidade, ora se chama de Prince, ora daquele "sblurgs" que inventou como símbolo) são desanimadoras.
"Tangerine", até bonitinha, parece cantiga infantil; "The Greatest Romance Ever Sold" e "Strange but True", por exemplo, são de uma vulgaridade inédita em Prince, mais para rhythm'n'blues babão (ou charme de baile funk carioca) que para o funk-rock que outrora ele sabia tão bem fazer.
Para completar, vários factóides: agora ele fica anunciando o endereço de seu site (comercial) no final do disco (mais um exemplo de como música e publicidade começam a se fundir de forma assustadora); no site dito-cujo, promete vender na Rede a "Rave Special Edition", com "surpresas" que ainda mantém secretas.
Parece papo de artista que se sufocou no próprio ego e forja uma superprodutividade indulgente que só ele finge não ver que não chega a lugar algum. É muito blablablá para pouco vintém.


Avaliação:  


Disco: Rave un2 the Joy Fantastic Artista: Prince Lançamento: BMG Quanto: R$ 20, em média


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