|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
Esculturas e desenhos da artista francesa são exibidos na galeria Serpentine, em Londres
Bourgeois volta a jogar com medo e desejo
"Spider IV", de 1996, escultura de Louise Bourgeois exposta em Londres
EDER CHIODETTO
em Londres
As tramas do erotismo feminino,
do gozo e da morte são as pulsões
que alinhavam a mostra "Louise
Bourgeois: Recent Work" na galeria Serpentine, em Londres.
Bourgeois ficou conhecida do
público paulistano após a 23ª Bienal Internacional de São Paulo, em
1996, quando sua imensa aranha
de aço arrebatou o público e acabou sendo comprada pelo Banco
Itaú e cedida para exposição no
MAM-SP -onde está até hoje.
Aos 87 anos, essa artista não pára
de surpreender com sua dinâmica
criativa.
Nessa exposição em Londres
Bourgeois mostra 14 trabalhos. A
maioria dessas obras possuem linhas de costura, roupas íntimas
que a artista usou na puberdade,
bonecos de tecido e vários tipos de
agulhas de costura e de crochê,
além de pedaços de tapeçaria.
Bourgeois cresceu em meio a
uma família de restauradores de
tapetes antigos. Os trabalhos ora
apresentados são fusões complexas das suas reminiscências infanto-juvenis, da descoberta da sexualidade e da feminilidade vistas
sob a ótica da mulher que no presente consegue redefinir os tempos idos pela associação das tramas e das texturas das suas roupas
a elementos opressivos.
Mas Bourgeois não é dada a nostalgia barata. Prova disso é a obra
"The Couple II", em que dois bonecos de tecido estão costurados
abraçados, com o homem sobre a
mulher durante o ato sexual. O
abraço é pura ternura. Mas por que
a mulher tem uma perna mecânica
e ambos não possuem cabeça?
É nessa dicotomia entre afetuosidade e carência, entre abnegação e
mutilação que Bourgeois trafega.
Mais que isso, ela revela a aparência celestial dos sentimentos para,
no instante seguinte, mostrar as
fissuras por onde se entrevê o inferno.
Na obra "Cell (Clothes)", de
1996, 18 portas carcomidas se fecham em círculo. Pelas frestas é
possível ver várias roupas femininas penduradas, um abajur azul e
umas peças de renda.
Bourgeois, de forma concisa e
poética, nos diz que o desejo está
sempre contido no corpo, mas o
prazer inevitavelmente se encontra naquilo que nos amedronta,
como as suas sensuais e ameaçadoras aranhas gigantes.
²
Exposição: Louise Bourgeois: Recent Work
Onde: Serpentine Gallery, Kensington
Gardens, Londres, tel. (00 44 171) 402-6075
Quando: até 10 de janeiro, 10h às 18h
Quanto: entrada franca
²
O articulista
Arnaldo Jabor está em férias
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|