São Paulo, terça, 29 de dezembro de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Esculturas e desenhos da artista francesa são exibidos na galeria Serpentine, em Londres
Bourgeois volta a jogar com medo e desejo

"Spider IV", de 1996, escultura de Louise Bourgeois exposta em Londres EDER CHIODETTO
em Londres

As tramas do erotismo feminino, do gozo e da morte são as pulsões que alinhavam a mostra "Louise Bourgeois: Recent Work" na galeria Serpentine, em Londres.
Bourgeois ficou conhecida do público paulistano após a 23ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1996, quando sua imensa aranha de aço arrebatou o público e acabou sendo comprada pelo Banco Itaú e cedida para exposição no MAM-SP -onde está até hoje.
Aos 87 anos, essa artista não pára de surpreender com sua dinâmica criativa.
Nessa exposição em Londres Bourgeois mostra 14 trabalhos. A maioria dessas obras possuem linhas de costura, roupas íntimas que a artista usou na puberdade, bonecos de tecido e vários tipos de agulhas de costura e de crochê, além de pedaços de tapeçaria.
Bourgeois cresceu em meio a uma família de restauradores de tapetes antigos. Os trabalhos ora apresentados são fusões complexas das suas reminiscências infanto-juvenis, da descoberta da sexualidade e da feminilidade vistas sob a ótica da mulher que no presente consegue redefinir os tempos idos pela associação das tramas e das texturas das suas roupas a elementos opressivos.
Mas Bourgeois não é dada a nostalgia barata. Prova disso é a obra "The Couple II", em que dois bonecos de tecido estão costurados abraçados, com o homem sobre a mulher durante o ato sexual. O abraço é pura ternura. Mas por que a mulher tem uma perna mecânica e ambos não possuem cabeça?
É nessa dicotomia entre afetuosidade e carência, entre abnegação e mutilação que Bourgeois trafega. Mais que isso, ela revela a aparência celestial dos sentimentos para, no instante seguinte, mostrar as fissuras por onde se entrevê o inferno.
Na obra "Cell (Clothes)", de 1996, 18 portas carcomidas se fecham em círculo. Pelas frestas é possível ver várias roupas femininas penduradas, um abajur azul e umas peças de renda.
Bourgeois, de forma concisa e poética, nos diz que o desejo está sempre contido no corpo, mas o prazer inevitavelmente se encontra naquilo que nos amedronta, como as suas sensuais e ameaçadoras aranhas gigantes.
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Exposição: Louise Bourgeois: Recent Work
Onde: Serpentine Gallery, Kensington Gardens, Londres, tel. (00 44 171) 402-6075
Quando: até 10 de janeiro, 10h às 18h Quanto: entrada franca
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O articulista Arnaldo Jabor está em férias


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