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São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 2003

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MÚSICA

Sambistas cariocas de 89 e 72 anos voltam ao mercado em 2003, com discos inéditos por selos independentes

Jamelão e Alfaiate apregoam passado do samba

Folha Imagem
Foto do puxador da Mangueira Jamelão em 1963, ao lado da letra do samba "Eu Agora Sou Feliz"


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O ano de 2003 começa com duas voltas de vulto ao passado e à grande história do samba: chegam às lojas discos novos dos clássicos sambistas Jamelão, 89, e Walter Alfaiate, 72.
A começar pelo alfaiate carioca que só em 1998 conseguiu lançar um primeiro álbum solo, Walter Alfaiate demonstra um princípio que as gravadoras poderiam entender como válido aos 20, aos 30 ou aos 80 anos de idade do artista.
Deixaram-no continuar, e "Samba na Medida" é muito superior a seu trabalho de estréia, "Olha Aí", de cinco anos atrás. A voz, potente e retumbante à moda de graves do samba como Monarco e Jamelão, está mais à vontade que antes. O repertório também vem mais apurado, a começar pelo picaresco (mas ainda melancólico) tema de autoria desconhecida "Bateram em Minha Porta".
Adiante, Alfaiate vai costurando o disco na alternância. Ora é o samba de tom jocoso, como "Chapéu do Compadre" (de Paquito e J. Santos) e "Mastruço e Catuaba" (de Aldir Blanc com Cláudio Cartier), dedicada ao "pessoal da terceira idade". Ora é a fina e serena tristeza do velho sambista, como em "A Paixão e a Jura" (dos sempre atuantes Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro) e "É Madrugada", de Walter.
Bem diferente é o caso de Jamelão. Intérprete principal da obra de dor-de-cotovelo do gaúcho Lupicinio Rodrigues e puxador histórico dos sambas da Mangueira, aos quase 90 anos ele tem repertório abundante e conhecido. Nunca parou de gravar, tem mais de duas dezenas de álbuns lançados desde 1958.
"Cada Vez Melhor" é um disco difícil de ouvir, pela opção radical que faz pela fossa, pelo samba-canção pesado e arrastado. E abriga menos surpresas que o disco de Alfaiate, até porque Jamelão investe em standards do samba-canção que passou a vida interpretando, como "Nunca" e "Folha Morta" (ambas de Lupicinio).
Acontecem no disco releituras como a de "Esta Melodia", que é de co-autoria de Jamelão, foi revelada por Clementina de Jesus e passou por redescoberta em 1994, quando Marisa Monte a relançou. A nova versão do "dono" freia o sambão, adiciona dados de jazz, empurra a história adiante.
Emblema do samba, ela fica lado a lado com "Piano na Mangueira", dos "sambistas" Tom Jobim e Chico Buarque, que Jamelão transforma em samba-jazz.
No mais, "Cada Vez Melhor" vem bancado pelo selo Obi Music, que quer fazer história revalorizando várias vertentes da cultura black brasileira. Fica engraçado ouvir o sambão de Jamelão nesse contexto, mas a ponte se refaz quando se constata, não sem surpresa, que o Tim Maia dos anos 80, mais atirado à fossa e ao romantismo, copiava à beça o vozeirão e os truques do pai sambista.


Samba na Medida    
Artista: Walter Alfaiate
Lançamento: CPC Umes
Quanto: R$ 29, em média

Cada Vez Melhor
   
Artista: Jamelão
Lançamento: Obi Music
Quanto: R$ 29, em média



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