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MÚSICA
Sambistas cariocas de 89 e 72 anos voltam ao mercado em 2003, com discos inéditos por selos independentes
Jamelão e Alfaiate apregoam passado do samba
Folha Imagem
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Foto do puxador da Mangueira Jamelão em 1963, ao lado da letra do samba "Eu Agora Sou Feliz" |
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O ano de 2003 começa com
duas voltas de vulto ao passado e à grande história do samba: chegam às lojas discos novos
dos clássicos sambistas Jamelão,
89, e Walter Alfaiate, 72.
A começar pelo alfaiate carioca
que só em 1998 conseguiu lançar
um primeiro álbum solo, Walter
Alfaiate demonstra um princípio
que as gravadoras poderiam entender como válido aos 20, aos 30
ou aos 80 anos de idade do artista.
Deixaram-no continuar, e
"Samba na Medida" é muito superior a seu trabalho de estréia,
"Olha Aí", de cinco anos atrás. A
voz, potente e retumbante à moda
de graves do samba como Monarco e Jamelão, está mais à vontade
que antes. O repertório também
vem mais apurado, a começar pelo picaresco (mas ainda melancólico) tema de autoria desconhecida "Bateram em Minha Porta".
Adiante, Alfaiate vai costurando
o disco na alternância. Ora é o
samba de tom jocoso, como
"Chapéu do Compadre" (de Paquito e J. Santos) e "Mastruço e
Catuaba" (de Aldir Blanc com
Cláudio Cartier), dedicada ao
"pessoal da terceira idade". Ora é
a fina e serena tristeza do velho
sambista, como em "A Paixão e a
Jura" (dos sempre atuantes Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro)
e "É Madrugada", de Walter.
Bem diferente é o caso de Jamelão. Intérprete principal da obra
de dor-de-cotovelo do gaúcho
Lupicinio Rodrigues e puxador
histórico dos sambas da Mangueira, aos quase 90 anos ele tem
repertório abundante e conhecido. Nunca parou de gravar, tem
mais de duas dezenas de álbuns
lançados desde 1958.
"Cada Vez Melhor" é um disco
difícil de ouvir, pela opção radical
que faz pela fossa, pelo samba-canção pesado e arrastado. E abriga menos surpresas que o disco
de Alfaiate, até porque Jamelão
investe em standards do samba-canção que passou a vida interpretando, como "Nunca" e "Folha Morta" (ambas de Lupicinio).
Acontecem no disco releituras
como a de "Esta Melodia", que é
de co-autoria de Jamelão, foi revelada por Clementina de Jesus e
passou por redescoberta em 1994,
quando Marisa Monte a relançou.
A nova versão do "dono" freia o
sambão, adiciona dados de jazz,
empurra a história adiante.
Emblema do samba, ela fica lado a lado com "Piano na Mangueira", dos "sambistas" Tom Jobim e Chico Buarque, que Jamelão transforma em samba-jazz.
No mais, "Cada Vez Melhor"
vem bancado pelo selo Obi Music,
que quer fazer história revalorizando várias vertentes da cultura
black brasileira. Fica engraçado
ouvir o sambão de Jamelão nesse
contexto, mas a ponte se refaz
quando se constata, não sem surpresa, que o Tim Maia dos anos
80, mais atirado à fossa e ao romantismo, copiava à beça o vozeirão e os truques do pai sambista.
Samba na Medida
Artista: Walter Alfaiate
Lançamento: CPC Umes
Quanto: R$ 29, em média
Cada Vez Melhor
Artista: Jamelão
Lançamento: Obi Music
Quanto: R$ 29, em média
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