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O LIVRO
Passado sombrio do autor não diminuiu admiração dos fãs
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Patrick O'Brian escreveu 20
romances protagonizados
pela dupla Jack Aubrey, um capitão da Marinha Real britânica durante as guerras napoleônicas, e
seu amigo Stephen Maturin, médico e espião. A série já vendeu
mais de quatro milhões de exemplares, foi traduzida em várias línguas (inclusive em Portugal e futuramente no Brasil, pela editora
Record) e gerou vários livros que
explicavam detalhes da série como a terminologia e a geografia.
O filme que estréia agora é uma
mistura de dois livros, "Master
and Commander", o primeiro da
série, de 1970, e "The Far Side of
the World", o décimo.
A adaptação tem seus lados curiosos. No décimo romance, os
americanos são o inimigo de Aubrey e colegas durante a guerra de
1812. Como não pegaria bem fazer
um filme de Hollywood em que os
americanos fossem os bandidos,
o papel ficou para os franceses.
O'Brian estava escrevendo o 21º
romance da saga quando morreu
aos 85 anos em 2000, com pelo
menos três capítulos inéditos que
poderão um dia ser publicados.
Só em 98 foi revelada, pelo jornal inglês "The Daily Telegraph",
a real identidade de O'Brian, que
sempre fora avesso a dar entrevistas e detalhes da sua vida.
Seu nome verdadeiro era Richard Patrick Russ e ele era inglês,
não irlandês, ao contrário do que
o nome adotado (e algumas declarações mentirosas dele) sugeriam. Ele abandonou à pobreza
sua primeira mulher e seus dois
filhos. Foi morar semi-recluso na
França com a segunda mulher.
O próprio Russ-O'Brian escreveu, em um volume de ensaios em
sua homenagem em 1994, que "é
com certa relutância que eu escrevo sobre mim, em primeiro lugar
porque esse exercício é raramente
bem sucedido, e mesmo que fosse, o homem com frequência não
coincide com seus livros, os quais,
se o platônico "não quem, mas o
quê" for aceito, são os únicos objetos legítimos de curiosidade".
Apesar desse caráter pouco admirável do autor, os livros da série
viraram objeto de culto. Escritores como A. S. Byatt, Iris Murdoch, Julian Symons e T. J. Binyon
eram fãs devotados.
A febre Aubrey-Maturin se alastrou nos EUA depois que em 1991
o escritor Richard Snow, em resenha no "The New York Times",
chamou a série de "os melhores
romances históricos escritos".
A ficção náutica-histórica teve
seu apogeu com o britânico C. S.
Forester (1899-1965), autor da série com o capitão Horatio Hornblower (também já filmado). Vários imitadores dos dois lados do
Atlântico surgiram depois, mas
O'Brian foi o único que conseguiu
transformar o gênero, muitas vezes visto como simples "livros de
aventuras", em literatura.
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