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"Queria filmar a decadência", diz Burman
Cineasta argentino comenta seu 6º longa, "Ninho Vazio", sobre casal em crise após filhos saírem de casa
DA REPORTAGEM LOCAL
"Temos a tendência de culpar os filhos pelos problemas
no relacionamento [do casal].
Achamos que os problemas
ocorrem ou porque eles estão
em casa, ou porque se foram."
No caso de Leonardo (Oscar
Martínez), que ouve essa frase
de seu confidente (Arturo
Goetz) em "Ninho Vazio", os filhos se foram de casa, e ele tenta entender por que sua relação
com a mulher, Martha (Cecilia
Roth), não é mais a mesma.
Trata-se de "um homem perdido em seu presente", como
assinala o diretor argentino
Daniel Burman, 35, que neste
seu sexto longa -que estreia
hoje no Brasil- volta a abordar
a paternidade, tema frequente
em sua obra ("O Abraço Partido", "As Leis de Família").
Há, porém, bem mais do que
relações de casal ou de pais e filhos entre os temas do filme.
Leonardo é um dramaturgo
que se encanta pela ideia da
"memória inventiva", um expediente pelo qual se pode recriar
o próprio passado ou encará-lo
sob outra perspectiva.
Uma vez decifrado o jogo
narrativo de "Ninho Vazio", o
longa se revela uma reflexão sobre os efeitos da passagem do
tempo na vida psíquica e sobre
o ato de criar -arte, não filhos.
"Aceitar mudanças custa"
"Há um momento na vida em
que você tem que reconhecer
que já fez o seu melhor e, nesse
sentido, enfrentar a sua decadência. Aceitar as mudanças
normalmente custa muito. Eu
queria fazer um filme sobre isso", disse Burman à Folha, por
telefone, de Boston, onde estava para promover o filme.
No campo da criação, o principal interlocutor de Burman é
o ator Daniel Hendler, que está
em quatro de seus cinco filmes
anteriores. Desta vez, Hendler
aparece apenas nos créditos,
como colaborador no desenvolvimento da trama, escrita
pelo cineasta.
"Meus encontros com Hendler me permitem entender
melhor meu próprio momento
no cinema. A maioria das frases
que eu escrevi foi ele quem disse. Não é pouco", afirma.
No elenco de "Ninho Vazio",
o público irá reconhecer também a atriz Inés Efron, protagonista do premiado "XXY", de
Lucía Puenzo. Aqui, ela interpreta a filha do casal Leonardo
e Martha, Julia, que decide se
mudar com o namorado para
Israel, onde ocorreram parte
das filmagens.
"Ninho Vazio" foi considerado por mais de um crítico portenho como o filme de Burman
mais fiel ao estilo Woody Allen,
a quem o argentino é sempre
comparado em seu país, um paralelo que ele recusa, por julgá-lo "superdimensionado".
"Além de ser um autor fundamental do século 20, Allen é
muito mais do que um diretor
de cinema", afirma Burman.
Paralelamente às viagens para divulgar "Ninho Vazio", o diretor vem escrevendo o roteiro
de seu sétimo longa, que tratará "da geração de 30 e poucos
anos". Ou seja, a sua.
(SILVANA ARANTES)
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