São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

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"Queria filmar a decadência", diz Burman

Cineasta argentino comenta seu 6º longa, "Ninho Vazio", sobre casal em crise após filhos saírem de casa

DA REPORTAGEM LOCAL

"Temos a tendência de culpar os filhos pelos problemas no relacionamento [do casal]. Achamos que os problemas ocorrem ou porque eles estão em casa, ou porque se foram."
No caso de Leonardo (Oscar Martínez), que ouve essa frase de seu confidente (Arturo Goetz) em "Ninho Vazio", os filhos se foram de casa, e ele tenta entender por que sua relação com a mulher, Martha (Cecilia Roth), não é mais a mesma.
Trata-se de "um homem perdido em seu presente", como assinala o diretor argentino Daniel Burman, 35, que neste seu sexto longa -que estreia hoje no Brasil- volta a abordar a paternidade, tema frequente em sua obra ("O Abraço Partido", "As Leis de Família").
Há, porém, bem mais do que relações de casal ou de pais e filhos entre os temas do filme. Leonardo é um dramaturgo que se encanta pela ideia da "memória inventiva", um expediente pelo qual se pode recriar o próprio passado ou encará-lo sob outra perspectiva.
Uma vez decifrado o jogo narrativo de "Ninho Vazio", o longa se revela uma reflexão sobre os efeitos da passagem do tempo na vida psíquica e sobre o ato de criar -arte, não filhos.

"Aceitar mudanças custa"
"Há um momento na vida em que você tem que reconhecer que já fez o seu melhor e, nesse sentido, enfrentar a sua decadência. Aceitar as mudanças normalmente custa muito. Eu queria fazer um filme sobre isso", disse Burman à Folha, por telefone, de Boston, onde estava para promover o filme.
No campo da criação, o principal interlocutor de Burman é o ator Daniel Hendler, que está em quatro de seus cinco filmes anteriores. Desta vez, Hendler aparece apenas nos créditos, como colaborador no desenvolvimento da trama, escrita pelo cineasta.
"Meus encontros com Hendler me permitem entender melhor meu próprio momento no cinema. A maioria das frases que eu escrevi foi ele quem disse. Não é pouco", afirma.
No elenco de "Ninho Vazio", o público irá reconhecer também a atriz Inés Efron, protagonista do premiado "XXY", de Lucía Puenzo. Aqui, ela interpreta a filha do casal Leonardo e Martha, Julia, que decide se mudar com o namorado para Israel, onde ocorreram parte das filmagens.
"Ninho Vazio" foi considerado por mais de um crítico portenho como o filme de Burman mais fiel ao estilo Woody Allen, a quem o argentino é sempre comparado em seu país, um paralelo que ele recusa, por julgá-lo "superdimensionado".
"Além de ser um autor fundamental do século 20, Allen é muito mais do que um diretor de cinema", afirma Burman.
Paralelamente às viagens para divulgar "Ninho Vazio", o diretor vem escrevendo o roteiro de seu sétimo longa, que tratará "da geração de 30 e poucos anos". Ou seja, a sua.
(SILVANA ARANTES)


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