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CRÍTICA
Biógrafo assassina trama original de Agatha Christie
da Redação
Para aqueles que estavam órfãos
dos crimes cometidos por assassinos inteligentes e solucionados
com método e organização, a editora Record está lançando dois títulos semi-inéditos da escritora inglesa Agatha Christie (1890-1976).
São eles o romance "Café Preto"
-que traz uma aventura estrelada
pelo detetive belga Hercule Poirot- e a coletânea de contos "Enquanto Houver Luz".
Baseado na peça teatral homônima escrita por Christie em 1930,
"Café Preto" traz na contracapa o
nome do principal assassino:
Charles Osborne, biógrafo que, insatisfeito em contar a vida de
Christie, resolveu mostrar que poderia simular o estilo da escritora.
Ele pegou o texto original da peça e redigiu as "ligas" necessárias
para que a obra ganhasse corpo de
romance. Seu único mérito na empreitada foi ter composto uma
narrativa fluida, mas isso é mais
decorrência da trama original.
Corria o ano de 1934. Poirot recebe o chamado de um cientista temeroso de que uma fórmula seja
roubada. Quando chega à casa do
cientista, Poirot o encontra morto.
Entre os suspeitos, há parentes,
um secretário particular, um médico italiano e um mordomo.
A trama traz alguns elementos
caros à prosa da escritora. Estão ali
a atmosfera enclausurada -tudo
se passa basicamente na sala de
uma casa de campo inglesa-, os
personagens com segredos inconfessáveis, a valorização do mais ínfimo dos detalhes.
O problema é o estilo que Osborne usou para juntar tudo isso.
Assim como a escritora, o biógrafo aproveita toda e qualquer
oportunidade para exercitar a arte
de despistar por meio da dissimulação. Mas há uma diferença: enquanto Christie fazia isso com sutileza, Osborne redireciona a atenção do leitor a patadas.
Chega perto do ofensivo o jeito
com que Osborne distribui evidências e pistas ao longo da narrativa.
Tudo ganha uma aura de armadilha gratuita a ser evitada por quem
pretende elucidar o mistério antes
de Poirot -passatempo predileto
dos leitores de Christie.
Outro ingrediente que incomoda
são os diálogos. De tão rasteiros e
primários, nem parecem saídos da
boca de um detetive perspicaz como Poirot ou de um cientista que
acabou de descobrir a fórmula para bombardear o átomo.
A coisa melhora bastante na coletânea de contos "Enquanto Houver Luz", a saída ideal para aqueles
que, desde 1976, esperam algo novo da escritora.
Lançada na Inglaterra em 1997, a
compilação traz, em doses homeopáticas, o talento que Christie tinha para segurar o leitor pela gola
da camisa e conduzi-lo até a página final de seus livros.
Publicados em revistas, os textos
contam casos de mistério, suspense e crimes. No conto que dá nome
à coletânea, a escritora experimenta uma bem-sucedida visita ao universo do sobrenatural.
E essa não é a única curiosidade
disponível no livro. Ele traz "A Casa dos Sonhos", primeiro conto de
Christie, no qual apresenta em estado bruto tendências estilísticas
que viria a desenvolver depois.
Fãs de Hercule Poirot encontram
dois contos protagonizados pelo
detetive: "Aventura Natalina" e "O
Mistério do Baú de Bagdá".
(EF)
˛
Livros: Enquanto Houver Luz e Café Preto
(peça adaptada por Charles Osborne)
Autora: Agatha Christie
Lançamento: Record
Quanto: R$ 16, cada (187 e 175 págs.,
respectivamente)
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