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LITERATURA
Debate realizado na Folha reuniu Márcio Souza e Ruy Castro
Autores destacam afinidades entre romance e reportagem
BRUNO GARCEZ
da Reportagem Local
O escritor e
presidente da
Funarte, Márcio
Souza, e o jornalista e escritor
Ruy Castro participaram, na última quinta-feira, do debate "Romance x Reportagem", realizado na Folha e promovido pelo jornal juntamente
com a Câmara Brasileira do Livro.
O debate foi o primeiro do ciclo
"Conversas de Salão", um dos
eventos que antecedem o 1º Salão
Internacional do Livro de São Paulo, a ser realizado em abril.
Coube a Márcio Souza, autor de
obras como "Galvez, Imperador
do Acre", "Mad Maria" e "A Ordem do Dia", falar sobre o romance. Ruy Castro, criador das biografias "O Anjo Pornográfico", de
Nelson Rodrigues, e "Estrela Solitária", de Mané Garrincha, dissertou sobre a reportagem. A mediação foi feita por Sylvia Colombo,
editora-assistente da Ilustrada.
A discussão acabou trazendo à
tona as afinidades existentes entre
a reportagem e o ato de criação literária. Para Ruy Castro, que é colaborador de "O Estado de S. Paulo", a prática da reportagem é importante não apenas para o biógrafo, mas também para o ficcionista.
"O mínimo de prática jornalística ou de interesse pela informação
pode ajudar o ficcionista a escrever
de forma mais clara e fluente", disse, referindo-se à apuração que o
romance muitas vezes exige a fim
de que se crie sua ambientação ou
seu contexto de época.
Castro lembrou já ter feito uso de
recursos literários em suas biografias, mas destacou que não houve
prejuízo à informação.
O autor exemplificou com uma
passagem de "O Anjo Pornográfico", que narra o assassinato de Roberto, irmão de Nelson Rodrigues.
"Não contei o episódio todo de
uma vez. Fui jogando pequenas informações sobre o irmão de Nelson e sobre o jornal de seu pai,
atrasando a narrativa e gerando
grande expectativa no leitor."
No entender de Márcio Souza,
ainda que o propósito final do romancista não seja a veracidade, o
ideal é se ele "conseguir dosar sua
narrativa com a realidade".
Segundo Souza, muitos escritores brasileiros têm dificuldade de
conquistar o leitor "porque não se
arriscam a escrever nada além do
que as suas experiências lhes informam, justamente porque não querem enfrentar a pedreira da apuração e da pesquisa".
O terceiro romance do autor,
"Mad Maria", conta a história da
construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, edificada no período do extrativismo da borracha,
no início do século.
Devido à inexistência de um arquivo da Madeira-Mamoré, o romancista teve que estudar a medicina tropical da época, entrevistar
médicos do período e levantar o
relatório feito por Oswaldo Cruz
sobre as condições de trabalho na
estrada de ferro.
No entender de Márcio Souza, tal
apuração não apenas assegura a
verossimilhança do romance, mas
traz um gratificação extra: "O leitor percebe esse esforço".
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