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"NORMA"
Atriz brilha em peça que recupera o teatral
SÉRGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Talvez a pior consequência
do beco sem saída do teatro
realista comercial, que não aspira
a nada além de reproduzir uma
"realidade" reconhecível, seja a de
promover o erro oposto, a da novidade a qualquer preço.
Montagens no Fringe abaixo da
crítica -isto é, que obrigam o crítico a sair antes do final, aflito por
estar perdendo coisa melhor-
em geral propõem interpretações
de textos conhecidos sem sua
análise prévia, que levam a espetáculos narcisistas e arbitrários.
Atores iniciantes, em nome do
saudável orgulho de não aspirarem apenas à interpretação de novelas, têm que saber dominar a
linguagem realista para depois
transcendê-la.
É empolgante, assim, que seja
justamente Tonio Carvalho, que
está ligado à preparação de atores
para a televisão, a propor um espetáculo tão teatral, no mais nobre sentido do termo.
Em "Norma", a estréia nacional
de anteontem na Mostra Contemporânea do 11º Festival de Teatro
de Curitiba, o telefone não precisa
tocar para ser atendido, o café não
precisa sair do bule, não porque
isso é "moderno", mas para que
não se perca tempo com o que
não é essencial.
A bela fábula, de autoria do diretor Carvalho e de Dora Castel-
lar, narra o encontro de duas pessoas opostas, mas com uma mesma solidão.
Uma enlutada e cínica senhora
de 50 anos e um angustiado e belo
rapaz de 30 se seduzem, se agridem e acabam se encontrando,
depois de transcender preconceitos e curar velhas feridas.
A cena única, com unidade de
tempo e espaço, lembra os bons
tempos de Leilah Assumpção. O
texto merece, no entanto, um enxugamento às vezes: um excesso
de preparação para as surpresas
da trama permite que parte do
público consiga prevê-las antes de
serem reveladas.
A direção em marcas precisas
consagra a interpretação de Ana
Lúcia Torre. Estabelecendo uma
cumplicidade imediata com a platéia, Ana Lúcia joga de forma bem
humorada e emocionante com as
contradições de sua personagem.
Norma pode tanto ser uma senhora reconfortantemente convencional, aferrada à "norma"
com ingenuidade, como uma megera que levou o filho ao suicídio,
em nome dessa mesma norma.
Frágil em seu desespero de mãe,
sabe, porém, partir de uma sensualidade que ofusca até mesmo a
do galã Eduardo Moscovis.
Moscovis ainda traz para a cena
hábitos de quem interpreta para
as câmeras: é como se as procurasse nos momentos de grande
emoção, deixando Ana Lúcia um
pouco sem apoio.
Uma certa rigidez corporal não
o impede, no entanto, de cumprir
uma caracterização contida, fundamental para que a surpresa da
trama, que subverte expectativas
em relação a sua figura pública,
não caia no clichê oposto.
O cenário e figurino de Gawronski, simples e elegantes, pecam talvez por uma simbologia
inteligente, mas desnecessária.
Nada disso entretanto compromete a grande emoção da platéia
diante de uma atriz como Ana Lúcia. Como seria bom se fosse esta
a norma para o teatro brasileiro.
Avaliação:
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