São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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"ROMEU E JULIETA"

Um clássico mais do que contemporâneo

INÊS BOGÉA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

"Romeu e Julieta", que estreou em grande estilo semana passada no Teatro Municipal do Rio, é uma remontagem da produção do maestro Mstislav Rostropovich e do coreógrafo Vladimir Vassiliev, criada em Valencia (Espanha), em janeiro. Arrojado, com o palco em três planos e tecnologia de última geração, o espetáculo de R$ 3 milhões marca época, mesmo sem ser tudo o que poderia.
A orquestra inteira está no palco, não no fosso. E tudo é feito para acentuar a música. A própria dança responde como se cada nota ressoasse nos corpos.
E a orquestra se saiu bem no Tchaikovski? Bem, mas nem tão bem assim: os metais...
E os três planos do palco? Dão um dinamismo particular à cena, que se torna uma massa de cores e texturas. É um "Romeu e Julieta" clássico, mas de ares mais-do-que-contemporâneos. O resultado fica só no limite -do lado de cá- do narcisismo tecnológico.
Veja-se o cenário virtual. Logo no início, dois rostos aparecem acima da cabeça branca de Rostropovich; e ao longo da noite as projeções criam ambientes, ou acentuam detalhes da cena "real".
A dança acontece em duas faixas, acima e abaixo da orquestra. O espaço que sobra não é generoso, e as danças de grupo ficam prejudicadas. Ainda mais que o corpo de baile ainda não está totalmente afinado.
Roberta Marquez dançou Julieta na estréia. A firmeza de sua técnica só faz acentuar a leveza dos movimentos. Sua dança alia suavidade ao vigor; e a mímica encontra com ela um ponto justo.
Já seu "partner", Thiago Soares, não estava num de seus melhores momentos. Ao lado de Marquez encontrou, mesmo assim, certo equilíbrio; e os duos foram o ponto alto do espetáculo.
Em grande noite estava André Valadão, no papel de Mercúcio. Preciso e dinâmico -mas também com sua dose de pândego. Marcelo Misailidis, como Teobaldo, formou boa dupla com ele. Seus estilos são diversos; mas o contraste cria a tensão necessária para que o duelo da dança acentue o dramático.
Em suma: uma montagem audaciosa e instigante. Não foi perfeita? Não. Mas quem disse que a perfeição é o valor mais alto? "Romeu e Julieta" faz jus à melhor tradição do Municipal do Rio e deixa a gente com vontade de ver mais.


Romeu e Julieta    
Onde: Teatro Municipal (pça. Floriano, s/nš, Rio, tel. 0/xx/21/2262-3935)
Quando: hoje, às 17h, e amanhã, às 20h30
Quanto: de R$ 20 a R$ 75



A crítica Inês Bogéa viajou a convite da produção do espetáculo



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