|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"ROMEU E JULIETA"
Um clássico mais do que contemporâneo
INÊS BOGÉA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
"Romeu e Julieta", que estreou em grande estilo semana passada no Teatro Municipal do Rio, é uma remontagem da
produção do maestro Mstislav
Rostropovich e do coreógrafo
Vladimir Vassiliev, criada em Valencia (Espanha), em janeiro. Arrojado, com o palco em três planos e tecnologia de última geração, o espetáculo de R$ 3 milhões
marca época, mesmo sem ser tudo o que poderia.
A orquestra inteira está no palco, não no fosso. E tudo é feito para acentuar a música. A própria
dança responde como se cada nota ressoasse nos corpos.
E a orquestra se saiu bem no
Tchaikovski? Bem, mas nem tão
bem assim: os metais...
E os três planos do palco? Dão
um dinamismo particular à cena,
que se torna uma massa de cores e
texturas. É um "Romeu e Julieta"
clássico, mas de ares mais-do-que-contemporâneos. O resultado fica só no limite -do lado de
cá- do narcisismo tecnológico.
Veja-se o cenário virtual. Logo
no início, dois rostos aparecem
acima da cabeça branca de Rostropovich; e ao longo da noite as
projeções criam ambientes, ou
acentuam detalhes da cena "real".
A dança acontece em duas faixas, acima e abaixo da orquestra.
O espaço que sobra não é generoso, e as danças de grupo ficam
prejudicadas. Ainda mais que o
corpo de baile ainda não está totalmente afinado.
Roberta Marquez dançou Julieta na estréia. A firmeza de sua técnica só faz acentuar a leveza dos
movimentos. Sua dança alia suavidade ao vigor; e a mímica encontra com ela um ponto justo.
Já seu "partner", Thiago Soares,
não estava num de seus melhores
momentos. Ao lado de Marquez
encontrou, mesmo assim, certo
equilíbrio; e os duos foram o ponto alto do espetáculo.
Em grande noite estava André
Valadão, no papel de Mercúcio.
Preciso e dinâmico -mas também com sua dose de pândego.
Marcelo Misailidis, como Teobaldo, formou boa dupla com ele.
Seus estilos são diversos; mas o
contraste cria a tensão necessária
para que o duelo da dança acentue o dramático.
Em suma: uma montagem audaciosa e instigante. Não foi perfeita? Não. Mas quem disse que a
perfeição é o valor mais alto? "Romeu e Julieta" faz jus à melhor tradição do Municipal do Rio e deixa
a gente com vontade de ver mais.
Romeu e Julieta
Onde: Teatro Municipal (pça. Floriano,
s/nš, Rio, tel. 0/xx/21/2262-3935)
Quando: hoje, às 17h, e amanhã, às 20h30
Quanto: de R$ 20 a R$ 75
A crítica Inês Bogéa viajou a convite da
produção do espetáculo
Texto Anterior: Bonecões de Pernambuco e de Minas abrem festival em BH Próximo Texto: Contardo Calligaris: Populismo americano Índice
|