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"POSTMAN BLUES"
Sabu homenageia universo noir de filmes de gângsteres japoneses
Diretor é fiel à criança que foi
Divulgação
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Cena de "Postman Blues", filme de 1997 dirigido pelo ator e cantor cult japonês Sabu |
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Em sua maleta de cartas, o
protagonista de "Postman
Blues" (1997), um carteiro que
padece de melancolia, leva, embutidos, os destinos dos demais
personagens do filme. Violando, numa noite de esbórnia, a
correspondência que deveria
entregar, o carteiro Sawaki abre
a caixa de Pandora desse que é o
segundo longa dirigido pelo
ator e cantor cult japonês Hiroyuki Tanaka, codinome Sabu.
Como se trata de uma comédia de erros, o pequeno delito de
Sawaki terá consequências desproporcionais. Mas os eventos
que daí decorrem não chegam a
ser tão curiosos quanto a tentativa do diretor Sabu de conceber
esse pequeno crime de seu protagonista como uma espécie de
redenção do espírito infantil.
Mais do que afirmar sua individualidade frente ao embrutecimento do trabalho, Sawaki se redescobre como protagonista
de seus sonhos de criança.
Sua noite de esbórnia, nesse
sentido, é consequência de um
encontro com um amigo de infância, gângster mequetrefe que
tem orgulho de ter se mantido
fiel aos sonhos de criança.
O tema é recorrente no filme
de Sabu e ecoa, não por acaso,
na verve lúdico-cinefílica da direção. Em "Postman Blues", os
personagens mais criminosos
são uma espécie de projeção de
seu imaginário infantil. Tal como esses, Sabu também parece
se manter fiel à criança que foi,
homenageando, numa obra típica dos anos 90, o universo
noir dos filmes de gângsteres japoneses e, especialmente, os
clássicos de ação produzidos
nos anos 50/60 pelo estúdio
Nikkatsu.
O problema é que Sabu se
aventura num terreno já minado pelo talento de Takeshi Kitano, cineasta que renovou o gênero de ação do cinema japonês. Sabu compartilha com Kitano o espírito lúdico, mas falta-lhe consolidar um estilo próprio. Falta-lhe regularidade.
O tom paródico e a tendência
ao pastiche marcam os piores
momentos do filme, como
quando entra em cena o personagem do matador de aluguel
Joe (Ren Oguji), paródia de tipos clássicos dos filmes de yakuza (a máfia japonesa).
Nesse quesito, Sabu ainda tem
muito a aprender com Kitano.
Já os melhores momentos do filme, como a sequência final da
perseguição de bicicletas, são
marcados por uma inusitada inventividade. Nesses momentos,
Sabu diz a que veio.
Postman Blues
Produção: Japão, 1997
Direção: Sabu
Com: Shinichi Tsutsumi, Keiko
Tohyama, Ren Oshugi, Keisuke Horibe
Quando: a partir de hoje no Top Cine
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