UOL


São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"POSTMAN BLUES"

Sabu homenageia universo noir de filmes de gângsteres japoneses

Diretor é fiel à criança que foi

Divulgação
Cena de "Postman Blues", filme de 1997 dirigido pelo ator e cantor cult japonês Sabu


TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

Em sua maleta de cartas, o protagonista de "Postman Blues" (1997), um carteiro que padece de melancolia, leva, embutidos, os destinos dos demais personagens do filme. Violando, numa noite de esbórnia, a correspondência que deveria entregar, o carteiro Sawaki abre a caixa de Pandora desse que é o segundo longa dirigido pelo ator e cantor cult japonês Hiroyuki Tanaka, codinome Sabu.
Como se trata de uma comédia de erros, o pequeno delito de Sawaki terá consequências desproporcionais. Mas os eventos que daí decorrem não chegam a ser tão curiosos quanto a tentativa do diretor Sabu de conceber esse pequeno crime de seu protagonista como uma espécie de redenção do espírito infantil.
Mais do que afirmar sua individualidade frente ao embrutecimento do trabalho, Sawaki se redescobre como protagonista de seus sonhos de criança.
Sua noite de esbórnia, nesse sentido, é consequência de um encontro com um amigo de infância, gângster mequetrefe que tem orgulho de ter se mantido fiel aos sonhos de criança.
O tema é recorrente no filme de Sabu e ecoa, não por acaso, na verve lúdico-cinefílica da direção. Em "Postman Blues", os personagens mais criminosos são uma espécie de projeção de seu imaginário infantil. Tal como esses, Sabu também parece se manter fiel à criança que foi, homenageando, numa obra típica dos anos 90, o universo noir dos filmes de gângsteres japoneses e, especialmente, os clássicos de ação produzidos nos anos 50/60 pelo estúdio Nikkatsu.
O problema é que Sabu se aventura num terreno já minado pelo talento de Takeshi Kitano, cineasta que renovou o gênero de ação do cinema japonês. Sabu compartilha com Kitano o espírito lúdico, mas falta-lhe consolidar um estilo próprio. Falta-lhe regularidade.
O tom paródico e a tendência ao pastiche marcam os piores momentos do filme, como quando entra em cena o personagem do matador de aluguel Joe (Ren Oguji), paródia de tipos clássicos dos filmes de yakuza (a máfia japonesa).
Nesse quesito, Sabu ainda tem muito a aprender com Kitano. Já os melhores momentos do filme, como a sequência final da perseguição de bicicletas, são marcados por uma inusitada inventividade. Nesses momentos, Sabu diz a que veio.


Postman Blues  
Produção: Japão, 1997
Direção: Sabu
Com: Shinichi Tsutsumi, Keiko Tohyama, Ren Oshugi, Keisuke Horibe
Quando: a partir de hoje no Top Cine



Texto Anterior: Cinema/estréias - "Baran": Iraniano recupera virtudes da delicadeza e do pudor
Próximo Texto: "O Olho que Tudo Vê": Idéia razoável permeada de sustos não constrói atmosfera do medo
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.