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BASTIDORES
Futebol vira
cinema em
"Boleiros"
Niels andreas/ Folha Imagem
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Marisa Orth (à dir.) observa atores que representam jogadores do Palmeiras; Lima Duarte (de pé, com casaco marrom) cruza a cena de gravação de "Boleiros"
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JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
Ugo Giorgetti está na quarta semana de filmagens de seu novo
longa-metragem, "Boleiros".
O filme, que deve ficar pronto no
segundo semestre, conta seis episódios envolvendo o futebol, cada
um deles relacionado com um clube de São Paulo (leia sinopses).
As histórias são evocadas por um
grupo de ex-jogadores, em torno
de uma mesa de bar. No elenco estão Lima Duarte, Otávio Augusto,
Marisa Orth, Adriano Stuart e Flávio Migliaccio, além dos ex-jogadores Zé Maria e Luís Carlos, do
Corinthians.
Giorgetti, que antes dirigiu "Jogo Duro", "Festa" e "Sábado",
falou com exclusividade à Folha
num dos sets de filmagem de "Boleiros", no hotel Crowne Plaza,
onde estava sendo rodada cena
com Lima Duarte e Marisa Orth.
Folha - Como foi sua relação com
os clubes?
Giorgetti - Não houve nenhum
problema maior, mesmo porque
as histórias independem dos clubes. O clube é uma maneira de dar
veracidade ao filme. Eu não conseguiria fazer uma história em que
um sujeito falasse que jogou no Pinheirinho, o outro no Bandeirante. Não dá.
Exceto no episódio referente ao
Corinthians, que tratamos com os
Gaviões da Fiel, falamos diretamente com os clubes e eles foram
cooperativos.
Também não existe nada contra
os clubes no filme. No episódio em
que há uma compra de juiz, o Juventus é a vítima. O clube que suborna não é nomeado. Além disso,
é um episódio de época, filmado
em preto-e-branco.
Folha - No episódio do gol de
placa, será usada imagem de arquivo?
Giorgetti - Sim. Compramos
dos herdeiros do Dener um gol
histórico dele contra o Internacional de Limeira.
Folha - Seus filmes anteriores se
passavam num único ambiente.
"Boleiros" tem muitas locações.
Como está sendo essa mudança?
Giorgetti - Uma loucura. Saí de
uma única sala direto para 28 locações, que vão desde o Crowne Plaza até a favela da vila Brasilândia,
passando pela redação da Folha,
estádios, restaurantes etc.
Para falar a verdade, não gosto
disso. A gente não sabe fazer cinema em lugar nenhum, mas muito
menos em locação. É terrível. Na
rua é tudo muito confuso, você
perde o controle sobre os detalhes.
Vai levar ainda muito tempo para
termos a disciplina e a tática para
enfrentar essa guerra que é a filmagem de externas.
Folha - Sua experiência como diretor de comerciais ajudou?
Giorgetti - Muito. Já filmei São
Paulo inteiro. Mas comercial é diferente: você vai lá e faz num dia.
Não é uma filmagem contínua, como num longa. Se você fica muito
tempo na rua, o imponderável começa a aparecer pra valer.
Quando filmávamos o episódio
dos Gaviões, por exemplo, apareceu por acaso um grupo de torcedores da Mancha Verde e quis saber o que estava acontecendo. Foi
uma confusão.
Folha - Você espera que o filme
agrade a quem não gosta de futebol?
Giorgetti - Espero que sim,
mesmo porque o filme não é só sobre futebol. Há episódios inteiros
em que você não vê nem bola,
quanto mais futebol. O filme usa o
futebol quase como pretexto.
Se você quiser considerá-lo um
filme sobre a cidade, também pode, pois eu vou da vila Brasilândia
a um restaurante japonês da alameda Franca, da rua Javari ao
Crowne Plaza. É um grande painel.
Outra coisa: não é preciso conhecer futebol para entender o filme.
O cara só precisa saber que um pênalti é uma coisa grave, no episódio do Juventus.
Folha - Você tem o hábito de escalar não-atores -como Jorge
Mautner, Tom Zé, Décio Pignatari.
Em "Boleiros" também?
Giorgetti - Menos. Pelo tema
do filme, tive de me render ao aspecto físico dos atores. Mas o que
há de muito legal em "Boleiros" é
que você vai ver um monte de atores que você nunca viu, da periferia, que fazem teatro amador e que
são muito bons.
Tem muito ator negro, o que é
incomum no cinema brasileiro.
Ou, quando é comum, são sempre
os mesmos, os negros oficiais. Peguei negros não-oficiais, que eu
mesmo nunca tinha visto.
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