|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lima Duarte usa Telê Santana como inspiração
especial para a Folha
Depois de oito anos ausente das
telas -sua última aparição foi em
"Lua Cheia", de Alain Fresnot-,
Lima Duarte está de volta em dois
filmes: o recém-concluído "A Ostra e o Vento", de Walter Lima Jr.,
e "Boleiros".
Em seguida, o ator vai a Portugal
para estrelar "O Rio do Ouro", de
Paulo Rocha, como um velho português que trabalha numa draga
no rio Douro.
No set de "Boleiros", Lima
Duarte, que já atuou "em quase 30
filmes", falou à Folha sobre a relação entre futebol e cinema.
(JOSÉ
GERALDO COUTO)
Folha - Como você imaginou seu
personagem de técnico?
Lima Duarte - Vou fazer com o
sotaque gaúcho do Oswaldo Brandão e o palitinho do Telê Santana
no canto da boca. O Ugo queria
que eu tirasse a barba, mas não
posso por causa do filme que vou
fazer em Portugal.
Se tirasse, talvez ficasse mais
próximo do Telê, que é muito meu
amigo. Aliás, fui eu que sugeri a
um diretor do São Paulo que contratasse o Telê como técnico,
quando caiu o Forlan.
O resto todo mundo sabe: o tricolor bicampeão mundial interclubes.
O técnico do filme é um chato,
que fica vigiando os jogadores para eles não transarem. Acho que o
Telê pode ser um bom modelo para ele.
Folha - Você e o Giorgetti têm em
comum a atenção à fala popular.
Duarte - Sem dúvida. E no caso
de "Boleiros" há também a paixão
pelo futebol. O roteiro dá bem um
painel da formação desse produto
cultural tão refinado que é o jogador de futebol brasileiro.
Folha - Como você tem visto a
modernização do futebol?
Duarte - Acho que a gente tem
que preservar um pouquinho da
paixão. Você tem camisas que não
deviam ser tão emporcalhadas.
Por mais que seja importante o patrocínio, há um exagero: o logotipo do anunciante aparece mais
que o distintivo do clube.
Os jogadores mudam muito de
clube por causa da grana. Como o
Muller e o Cafu, que traíram o São
Paulo, deram um drible no amor
ao clube.
Folha - Você é são-paulino e interpreta no filme o técnico do Palmeiras. Isso não é traição?
Duarte - Vou fazer um técnico
canastrão, só pra sacanear. No
fundo, é tudo brincadeira.
Drummond tem uma crônica
muito bonita sobre futebol. Ele
diz: diante de 100 mil pessoas gritando, de repente um pedaço de
couro passa uma linha branca, eis
a vitória. Que abstração maravilhosa.
A vitória, antigamente, era a cabeça sangrando do inimigo. Como
pode ser bárbaro um povo que
ama o futebol?
Folha - E seu trabalho na TV?
Duarte - Quando voltar de Portugal, talvez faça uma série na Globo com histórias do João Ubaldo
Ribeiro. Eu disse a eles: pára com
essa bobagem de "Justiceira". Não
dá para querer competir com os
americanos no terreno deles.
Qualquer filme classe C é melhor
que aquilo.
Folha - Na sua situação, você poderia trabalhar só em cinema?
Duarte - Com essa retomada da
produção, talvez ser ator de cinema vire uma profissão. Por enquanto, está difícil.
Mas as coisas estão melhorando.
Parece que a Globo também vai fazer filmes. Pelo que me disseram,
eles vão produzir, a partir de 98,
uns dez filmes por ano. Já pensou?
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|