São Paulo, sexta, 30 de maio de 1997.



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Lima Duarte usa Telê Santana como inspiração

especial para a Folha

Depois de oito anos ausente das telas -sua última aparição foi em "Lua Cheia", de Alain Fresnot-, Lima Duarte está de volta em dois filmes: o recém-concluído "A Ostra e o Vento", de Walter Lima Jr., e "Boleiros".
Em seguida, o ator vai a Portugal para estrelar "O Rio do Ouro", de Paulo Rocha, como um velho português que trabalha numa draga no rio Douro.
No set de "Boleiros", Lima Duarte, que já atuou "em quase 30 filmes", falou à Folha sobre a relação entre futebol e cinema. (JOSÉ GERALDO COUTO)

Folha - Como você imaginou seu personagem de técnico?
Lima Duarte -
Vou fazer com o sotaque gaúcho do Oswaldo Brandão e o palitinho do Telê Santana no canto da boca. O Ugo queria que eu tirasse a barba, mas não posso por causa do filme que vou fazer em Portugal.
Se tirasse, talvez ficasse mais próximo do Telê, que é muito meu amigo. Aliás, fui eu que sugeri a um diretor do São Paulo que contratasse o Telê como técnico, quando caiu o Forlan.
O resto todo mundo sabe: o tricolor bicampeão mundial interclubes.
O técnico do filme é um chato, que fica vigiando os jogadores para eles não transarem. Acho que o Telê pode ser um bom modelo para ele.
Folha - Você e o Giorgetti têm em comum a atenção à fala popular.
Duarte -
Sem dúvida. E no caso de "Boleiros" há também a paixão pelo futebol. O roteiro dá bem um painel da formação desse produto cultural tão refinado que é o jogador de futebol brasileiro.
Folha - Como você tem visto a modernização do futebol?
Duarte -
Acho que a gente tem que preservar um pouquinho da paixão. Você tem camisas que não deviam ser tão emporcalhadas. Por mais que seja importante o patrocínio, há um exagero: o logotipo do anunciante aparece mais que o distintivo do clube.
Os jogadores mudam muito de clube por causa da grana. Como o Muller e o Cafu, que traíram o São Paulo, deram um drible no amor ao clube.
Folha - Você é são-paulino e interpreta no filme o técnico do Palmeiras. Isso não é traição?
Duarte -
Vou fazer um técnico canastrão, só pra sacanear. No fundo, é tudo brincadeira.
Drummond tem uma crônica muito bonita sobre futebol. Ele diz: diante de 100 mil pessoas gritando, de repente um pedaço de couro passa uma linha branca, eis a vitória. Que abstração maravilhosa.
A vitória, antigamente, era a cabeça sangrando do inimigo. Como pode ser bárbaro um povo que ama o futebol?
Folha - E seu trabalho na TV?
Duarte -
Quando voltar de Portugal, talvez faça uma série na Globo com histórias do João Ubaldo Ribeiro. Eu disse a eles: pára com essa bobagem de "Justiceira". Não dá para querer competir com os americanos no terreno deles. Qualquer filme classe C é melhor que aquilo.
Folha - Na sua situação, você poderia trabalhar só em cinema?
Duarte -
Com essa retomada da produção, talvez ser ator de cinema vire uma profissão. Por enquanto, está difícil.
Mas as coisas estão melhorando. Parece que a Globo também vai fazer filmes. Pelo que me disseram, eles vão produzir, a partir de 98, uns dez filmes por ano. Já pensou?



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