São Paulo, sábado, 30 de maio de 1998

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O RETORNO DA MUSA
Musa do cinema novo abraça versos de Rimbaud

Niels Andreas/Folha Imagem
Helena Ignez (à frente) e sua filha Djin Sganzerla, que atuam em "Cabaret Rimbaud - Uma Temporada no Inferno"



Helena Ignez dirige 'Cabaret Rimbaud - Uma Temporada no Inferno', performance baseada na obra do revolucionário poeta francês; espetáculo estréia hoje no teatro do Sesc, em Santos (SP), e traz no elenco sua filha Djin Sganzerla


FAUSTO SIQUEIRA
da Agência Folha, em Santos

Musa do cinema novo, referência do cinema underground brasileiro, Helena Ignez produziu, roteirizou, interpreta, dirige e estréia hoje o espetáculo "Cabaret Rimbaud - Uma Temporada no Inferno".
Ela se baseou em duas das principais obras do poeta francês Arthur Rimbaud -"Uma Temporada no Inferno", escrita em 1873, e "Iluminações", de 1886.
O encontro das trajetórias marginais da atriz Helena Ignez e de Rimbaud (1851-1891) acontece no teatro do Sesc, em Santos (SP), com a estréia da turnê nacional de "Cabaret Rimbaud".
Mantras
Segundo Helena Ignez, não se trata de teatro convencional, mas de um exercício de "multilinguagem", desdobramento da performance "Tai Show Número 1 - Todo Mundo Rouba Rimbaud", apresentada ao ar livre, no ano passado, no Pelourinho, em Salvador.
No palco, entre efeitos especiais de luz e fogo, 14 atores, músicos e bailarinos misturam movimentos de tai-chi-chuan, dança, teatro e projeções.
A montagem utiliza ainda mantras orientais, sons de tambores, cítara e canto árabe.
Um dos destaques da montagem que será apresentada em Santos é a presença da cantora marroquina Keltun, mulher do embaixador brasileiro na Tailândia, Arnaldo Carrilho.
A montagem atual do espetáculo foi apresentada no ano passado no Museu de Arte Moderna da Bahia e na Mostra Internacional de Cultura de Barcelona (Espanha), mas só agora, a partir de Santos, começa a percorrer o país.
Segundo Helena Ignez, "Cabaret Rimbaud" vai em seguida para Brasília, na segunda quinzena de junho, e depois para São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e outros Estados.
Em relação à performance de rua que originou o espetáculo, a montagem a ser apresentada na turnê ampliou o elenco (de sete para 14 participantes), introduziu o aparato cenográfico e adicionou mais poemas de Rimbaud.
Cidade natal

"A essência é a mesma. O espetáculo teve seus textos ampliados e foi aprofundado. Passamos para uma montagem um pouco mais teatral, mas sem perder essa característica de performance", conta a atriz e diretora.
Além da turnê, ela afirma que negocia com o Ministério da Cultura da França a apresentação do espetáculo em Charleville, cidade onde nasceu Arthur Rimbaud, poeta errante e "maldito", considerado um dos mais revolucionários autores do século 19.
Helena Ignez define "Cabaret Rimbaud" como uma "continuação teatral" do período da Belair, a produtora que nos anos 60 e 70 mantinha em associação com os cineastas Júlio Bressane e Rogério Sganzerla.
Expoentes do chamado cinema "underground", eles dirigiram inúmeros filmes dos quais Ignez era protagonista, como "Sem Essa Aranha" (Sganzerla) e "Família do Barulho" (Bressane), dois dos que ela julga mais representativos dessa fase.
"Aquele foi o período mais experimental e mais rico de todo o meu trabalho. "Cabaret Rimbaud' é um espetáculo de vanguarda e uma continuação da Belair, pela ousadia e pela criatividade", afirma a atriz.



Espetáculo: Cabaret Rimbaud - Uma Temporada no Inferno
Direção: Helena Ignez
Quando: hoje (21h) e amanhã (20h)
Onde: teatro do Sesc (rua Conselheiro Ribas, 136, Aparecida, Santos, tel. 013/227-5959)
Preço: R$ 15 (não-sócios) e R$ 7,50 (sócios e estudantes)



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