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MÚSICA ERUDITA
Joshua Bell revê romantismo
LUIS S. KRAUSZ
especial para a Folha
Samuel Barber, Ernest Bloch e
William Walton, três músicos românticos que compuseram à sombra da 2ª Guerra Mundial, um
conflito cujos horrores inauditos
representaram, para muitos, o tiro
de misericórdia nas ilusões do romantismo.
Por muito tempo relegados, são
abordados com justeza no novo
CD que o ex-menino prodígio do
violino, Joshua Bell, gravou em 97
com a Sinfônica de Baltimore, sob
regência de David Zinman.
Bell toca um Stradivarius de 1727
e é um sério candidato ao posto de
estrela maior na pequena constelação dos grandes violinistas do
próximo século. E é a partir dessa
perspectiva que ele interpreta as
obras incluídas no CD.
Sua atitude, aqui, tem a nostalgia
de quem dá voz a um mundo esquecido, como se essas músicas
pertencessem a um passado inacessível.
Os concertos para violino de
William Walton, de 1938, e de Samuel Barber, de 1939, são o que
esses músicos têm de mais romântico. Se o concerto para violar de
Walton, de 1930, foi uma obra cujo modernismo e ruptura com as
convenções musicais chamou a
atenção da crítica, seu concerto
para violino representou, se é possível usar essa expressão, um passo atrás em sua carreira.
Baseado em temas de natureza
cantabile, tem melodias sonhadoras e grandiloquentes. Todo o fascínio das idealizações poéticas da
Itália e do sul perpassa essa obra
- sobretudo seu segundo movimento, o virtuosístico presto alta
napolitana, de ritmos cambiantes,
ora etéreo como um intermezzo
operístico, ora sangüíneo como
Paganini.
Se Walton buscou nas idealizações que o romantismo fez da Itália muitos dos temas de seu concerto, Barber recorreu ao folclore
de sua terra. No longo primeiro
movimento de seu concerto para
violino, tão cantabile quanto o de
Walton, estão danças de caráter
escocês ou irlandês, que são, por
seu ritmo, o principal elemento de
contraste com a expansiva linha
melódica seguida pelo solista.
No caso da suíte Baal Shem, de
Ernest Bloch, o "mundo esquecido" é o dos judeus bassídicos ou
pietistas do Leste Europeu, aniquilados pelo Holocausto. Composta em 1923, essa peça premonitória recebeu a versão orquestral
aqui registrada em 1939.
Sua estréia em Nova York, em
1941, foi um gesto ao mesmo tempo político e estético, embora só
tenha sido efetivo de seu segundo
ponto de vista. Destaques da suíte
são os diálogos entre os clarinetes
e o solista, reminiscentes da música de klezmer (folclórica judaica).
Autores: Samuel Barber, William Walton e
Ernest Bloch
Intérprete: Joshua Bell, violino, e
Orquestra Sinfônica de Baltimore, sob
regência de David Zinman
Lançamento: Decca (CD importado
Quanto: R$ 25 (em média)
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