São Paulo, sábado, 30 de maio de 1998

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MÚSICA ERUDITA
Joshua Bell revê romantismo

LUIS S. KRAUSZ
especial para a Folha

Samuel Barber, Ernest Bloch e William Walton, três músicos românticos que compuseram à sombra da 2ª Guerra Mundial, um conflito cujos horrores inauditos representaram, para muitos, o tiro de misericórdia nas ilusões do romantismo.
Por muito tempo relegados, são abordados com justeza no novo CD que o ex-menino prodígio do violino, Joshua Bell, gravou em 97 com a Sinfônica de Baltimore, sob regência de David Zinman.
Bell toca um Stradivarius de 1727 e é um sério candidato ao posto de estrela maior na pequena constelação dos grandes violinistas do próximo século. E é a partir dessa perspectiva que ele interpreta as obras incluídas no CD.
Sua atitude, aqui, tem a nostalgia de quem dá voz a um mundo esquecido, como se essas músicas pertencessem a um passado inacessível.
Os concertos para violino de William Walton, de 1938, e de Samuel Barber, de 1939, são o que esses músicos têm de mais romântico. Se o concerto para violar de Walton, de 1930, foi uma obra cujo modernismo e ruptura com as convenções musicais chamou a atenção da crítica, seu concerto para violino representou, se é possível usar essa expressão, um passo atrás em sua carreira.
Baseado em temas de natureza cantabile, tem melodias sonhadoras e grandiloquentes. Todo o fascínio das idealizações poéticas da Itália e do sul perpassa essa obra - sobretudo seu segundo movimento, o virtuosístico presto alta napolitana, de ritmos cambiantes, ora etéreo como um intermezzo operístico, ora sangüíneo como Paganini.
Se Walton buscou nas idealizações que o romantismo fez da Itália muitos dos temas de seu concerto, Barber recorreu ao folclore de sua terra. No longo primeiro movimento de seu concerto para violino, tão cantabile quanto o de Walton, estão danças de caráter escocês ou irlandês, que são, por seu ritmo, o principal elemento de contraste com a expansiva linha melódica seguida pelo solista.
No caso da suíte Baal Shem, de Ernest Bloch, o "mundo esquecido" é o dos judeus bassídicos ou pietistas do Leste Europeu, aniquilados pelo Holocausto. Composta em 1923, essa peça premonitória recebeu a versão orquestral aqui registrada em 1939.
Sua estréia em Nova York, em 1941, foi um gesto ao mesmo tempo político e estético, embora só tenha sido efetivo de seu segundo ponto de vista. Destaques da suíte são os diálogos entre os clarinetes e o solista, reminiscentes da música de klezmer (folclórica judaica).

Autores: Samuel Barber, William Walton e Ernest Bloch
Intérprete: Joshua Bell, violino, e Orquestra Sinfônica de Baltimore, sob regência de David Zinman Lançamento: Decca (CD importado
Quanto: R$ 25 (em média)


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